A Europa pode defender-se sozinha? Três razões pelas quais ainda precisa dos EUA
A guerra na Ucrânia e a crescente competição geopolítica põem a Europa diante de uma questão crítica: pode o continente garantir a sua própria segurança sem depender dos Estados Unidos?
A retórica sobre a “autonomia estratégica” da União Europeia ganha força, mas a realidade é inescapável: sem o chapéu americano, a Europa ainda está vulnerável.
Aqui estão três razões fundamentais:
1. Insuficiência Militar e Fragmentação da Defesa Europeia
A Europa tem aumentado os seus orçamentos de defesa, mas isso não significa que esteja preparada para garantir a sua segurança de forma independente. O continente enfrenta problemas estruturais, como a fragmentação da indústria de defesa, a falta de interoperabilidade entre os sistemas militares e uma dependência crítica de tecnologia e logística dos EUA.
Além disso, a prontidão militar europeia ainda é insuficiente, com dificuldades para mobilizar e sustentar forças em operações prolongadas. Nesse cenário, a NATO, liderada pelos EUA, continua a ser o principal garante da segurança europeia, fornecendo dissuasão nuclear, superioridade tecnológica e capacidade de resposta rápida, ou seja, prontidão.
2. Falta de uma Cultura Comum de Defesa
A Europa ainda não desenvolveu uma visão geopolítica unificada sobre segurança. Divergências entre países dificultam a consolidação de uma política de defesa robusta e coesa. A França defende maior autonomia europeia, enquanto a Alemanha se mostra hesitante em aumentar o seu compromisso militar. Já os países do Leste Europeu, mais expostos às ameaças russas, preferem manter laços estreitos com Washington. Além disso, a ausência de um comando unificado e a dificuldade em projetar poder globalmente limitam a capacidade europeia de atuar de forma independente. Nesse contexto, os EUA fornecem o elemento unificador dentro da NATO, garantindo coerência estratégica e operacional.
3. Ameaças Globais e a Necessidade de um Escudo Nuclear
A Europa enfrenta ameaças crescentes, como a agressão russa na Ucrânia e a pressão sobre os Bálticos e o Ártico, a influência chinesa no setor tecnológico e infraestrutural, e riscos como terrorismo, ciberataques e instabilidade no Oriente Médio e África. Embora a França possua dissuasão nuclear, esta não oferece uma garantia coletiva a todos os membros da UE, como faz o Nuclear Sharing da NATO. A presença militar global dos EUA, aliada ao seu escudo nuclear, continua a ser essencial para a segurança europeia.
Em suma, a realidade geopolítica mostra que, no atual contexto, a Europa ainda não pode prescindir dos EUA para garantir a sua segurança. A falta de capacidades militares próprias, a ausência de uma liderança estratégica unificada e a necessidade de um escudo nuclear confiável fazem com que qualquer tentativa de “autonomia estratégica” seja, por ora, um conceito vazio ou uma mera aspiração.
Sem capacidades estratégicas, a Europa permanecerá, como Zelensky ressaltou na Cimeira de Davos deste ano, um ator secundário, sem ser reconhecida como um parceiro indispensável para a segurança global.
Especialista em Segurança e Defesa