A Europa no seu labirinto
Quando, há cerca de um ano, os cidadãos europeus foram chamados a eleger os deputados ao Parlamento Europeu nenhum dos eleitores conseguiria antecipar os trabalhos ciclópicos com que a Europa se iria confrontar. E, creio, os eleitos também não antecipavam a dimensão e sobretudo a complexidade dos desafios que a nova realidade lhes imporia.
Certamente todos antecipávamos reformas institucionais, um violento confronto com a Rússia, o combate de sempre pela liberdade, pelas liberdades, e, claro, a habitual barganha à volta dos fundos comunitários.
De repente, ou talvez não tanto, tudo mudou.
As regras do comércio internacional ruíram fragorosamente, para não dizer que a própria OMC perdeu sentido. Aliados de sempre, nos princípios e na acção, parecem hoje adversários ou, pelo menos, tão divergentes que quase parece estarmos a assistir ao reverso de 1989…
Aqui chegados e quando o mundo parece movimentar-se entre os interesses dos EUA, por um lado, e os de um bloco imperial sino-russo, à Europa impõe-se, exige-se, unidade, independência, autonomia de decisão, defesa intransigente dos seus interesses e, sobretudo, a afirmação dos nossos valores civilizacionais e republicanos.
Sim, é essencial que nenhum dos seus estados-membros caia na tentação de entender que sozinho pode enfrentar a situação actual.
Podem alguns líderes de países europeus fazer bem-intencionadas aparições no espaço cénico em que se tornou a Sala Oval da Casa Branca. Podem, mas não deviam.
Aquele espaço, quando hoje é usado para as actuações que conhecemos, traz-me sempre à memória a alva e quilométrica mesa do kremlin. Lembram-se?
Há uma década a Europa resgatou, com os custos conhecidos, a dívida de pequenos países. Terá a Europa, hoje, condições para ajudar a França com a sua crescente dívida publica? Dívida que já ascende a 113% do PIB.
Quando para fazer um iPhone são necessários componentes fornecidos por 200 empresas originárias de 40 países, percebemos facilmente que cada por si vale muito pouco.
O que se impõe é que os órgãos da União Europeia organizem e fixem uma posição comum em nome dos 27. Agindo depressa, que não apressadamente. Sobretudo porque aquilo que parece estar a surgir à nossa frente é uma nova ordem mundial e à Europa exige-se que defina e afirme a posição que quer assumir nessa nova ordem. O desafio não é salvar o passado. O desafio é construir o futuro. Concebê-lo, construí-lo e fixar o papel que nele queremos ter.
Para tanto tem a Europa de possuir as essenciais alavancas de poder. Recursos, capacidade produtiva, população, forças armadas, serviços de inteligência e um desígnio mobilizador que os cidadãos entendam e os motive.
Esta é a hora da Europa.
Da Europa toda.
Não ser capaz de o fazer é o caminho certo para a subalternidade.
Advogado e gestor