A estratégia arriscada da ministra da Saúde
A ministra da Saúde - amplamente suportada pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro - parece ter adotado uma estratégia de aparecer repetidas vezes em longas entrevistas e comunicações oficiais, transmitidos nas TV. Nesses momentos, lista medidas, contrapõe números, avança dados, revela medidas em construção ou prestes a ser aplicadas, reconhece erros, admite mudanças e chega a deixar alertas mais ou menos velados dirigidos a responsáveis de serviços que tutela.
É uma estratégia arriscada. Primeiro, porque dificilmente um ministro consegue explicar - com exatidão e ao mesmo tempo de forma a que o cidadão comum consiga compreender - todas as notícias que se escrevem sobre um setor. Esta ideia é, no caso da Saúde, duplamente verdade. Depois, porque as constantes declarações e explicações da ministra constituem um enorme acervo de frases que, com grande probabilidade, serão desmentidas pelo tempo e pelo “normal” funcionamento do SNS.
É claro que a ministra Ana Paula Martins, uma surpresa por (ainda) estar incluída no elenco governamental após as últimas eleições, pode estar a servir de íman de críticas. Uma técnica que José Mourinho usava frequentemente quando liderava equipas de futebol de topo, deixando os jogadores resguardados para cumprirem a sua função com tranquilidade. A questão é “quem está a ministra a proteger”? O INEM? Os responsáveis hospitalares? Ou o resto do Governo?
Seja como for, e mais importante, as explicações de Ana Paula Martins não resistem às mortes de doentes “quando o INEM deveria ter chegado mais cedo”. Não resistem aos mais de 1200 pedidos de escusa de responsabilidade entregues pelos médicos e enfermeiros - como o DN avançou no início da semana. Não resistem a tempos de espera de quatro e de sete horas. Não resistem ao escrutínio sobre os serviços hospitalares, como revela a peça da jornalista Ana Mafalda Inácio, nas páginas desta edição, que mostra como as Urgências de Sintra estão a afetar tanto as escalas do Hospital Amadora-Sintra que é cada vez mais frequente um médico ficar responsável por mais de 600 camas no internamento.
Isto as pessoas entendem bem, mais que não seja porque o vivem diariamente ou conhecem alguém que anda a passar pela provação que é estar doente e ter apenas o serviço de saúde público a quem recorrer.
Diretor-adjunto do Diário de Notícias