Portugal prepara-se para enfrentar a Revolução Digital com uma estratégia nacional ambiciosa, projetando um futuro onde o digital não só simplifica a vida dos cidadãos como transforma a economia e a sociedade. No entanto, ao revisitar o documento em discussão pública até amanhã, percebe-se que o papel da sociedade civil e da Rede Nacional de Administração Aberta (OGP Portugal) na cocriação de políticas públicas digitais merece maior atenção..A inclusão digital, apontada como prioridade, é essencial, mas carece de uma abordagem mais participativa. Iniciativas como o “Passaporte de Competências Digitais” ou o “Participa com o Digital” são passos positivos, no entanto, limitar a participação a consultas públicas ou plataformas digitais restritas, reduz o impacto que uma colaboração genuína pode alcançar..Desde 2017, com a adesão de Portugal ao OGP, a Rede Nacional de Administração Aberta tem articulado esforços entre Administração Pública e sociedade civil para a melhoria dos serviços públicos. Este modelo de cocriação, baseado em consultas amplas, poderia ser mais explorado na Estratégia Digital Nacional, assegurando que as soluções reflitam as necessidades reais da população..A colaboração da sociedade civil e da Rede Nacional de Administração Aberta tem o potencial de enriquecer a estratégia. Organizações locais e comunidades são frequentemente as mais bem posicionadas para identificar lacunas e propor soluções adaptadas às realidades regionais. Conselhos consultivos regionais poderiam fortalecer essa dinâmica, reunindo representantes da sociedade civil, empresas e Administração Pública..Embora a Estratégia reconheça o papel das empresas e da academia no fortalecimento do ecossistema digital, é fundamental valorizar igualmente as organizações não-governamentais e movimentos sociais. Este ecossistema de cocriação garantiria que as soluções digitais atendessem efetivamente às expectativas da sociedade..A inclusão da sociedade civil pode igualmente aumentar a confiança e a transparência, enquanto pilares fundamentais da Estratégia. O envolvimento ativo legitima as decisões políticas e ajuda a antecipar problemas antes que se tornem obstáculos..Para facilitar esta colaboração, o gov.pt poderia albergar um espaço permanente dedicado à cocriação de políticas públicas digitais, permitindo discussões e ajustes contínuos. Este avanço reforçaria o compromisso com uma cidadania ativa e participativa..Reduzir a transformação digital a um desafio tecnológico seria ignorar o papel essencial das pessoas e das comunidades. Para além de palavras, esta Estratégia exige ação e escuta ativa. A transformação digital genuína é, acima de tudo, uma construção coletiva, onde o envolvimento dos cidadãos é nuclear para o sucesso de Portugal no futuro digital.