A equipa Trump: da incompetência servil à violência sem limites

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Albert Einstein (1879-1955) dizia que a incompetência em matéria de governação política era uma das suas grandes inquietações. Viveu num período particularmente turbulento e observou que as grandes crises sempre tiveram origem na incompetência dos dirigentes políticos. Da ineficiência cretina à fúria descontrolada são dois passos curtos e potencialmente explosivos. Na mesma linha, outros pensadores, como o escritor norte-americano Isaac Asimov (1920-1992), acrescentaram que os políticos incompetentes recorrem ao uso da violência para esconder a sua estupidez e a sua inépcia. Ou nomeiam uma equipa de capachos fiéis, que lhes possam servir de paus-mandados, de biombo ou de subterfúgio. 

Lembrei-me disto ao tomar conhecimento da primeira lista de nomeações que Donald Trump pretende fazer. Por exemplo, escolher um pivô tarouco da cadeia de televisão Fox News para liderar o departamento da Defesa, num momento em que grandes conflitos estão a acontecer e outros poderão vir a espoletar, só serve para provar que a nomeação nada tem a ver com a resolução dessas crises. O homem, Pete Hegseth, para além do desatino, não tem qualquer experiência na matéria. Também pouco ou nada sabe de relações internacionais, para além de umas ideias esdrúxulas, próximas do fascismo - foi apenas um oficial da Guarda Nacional, uma força que existe para tratar de desordens internas. Hegseth não possui nenhum tipo de prestígio ao nível das chefias das Forças Armadas dos EUA. Servirá apenas de correia de transmissão às ordens de Trump, quando se tratar de substituir os comandos militares por generais servilmente obedientes ao presidente. 

Este é apenas um exemplo. Se se analisar o passado de quem foi nomeado para o Departamento de Estado, como Conselheiro Nacional de Segurança, para representar o país em Nova Iorque, na sede da ONU, com assento permanente no Conselho de Segurança, como embaixador em Israel ou para desempenhar as funções de Enviado Especial para o Médio Oriente, que são alguns dos nomes já conhecidos, fica-se a perceber quais são as prioridades de Trump, nesta parte do globo. São fundamentalmente três. Uma: apoiar sem reservas o governo de Israel. Outra: contribuir para tornar a vida impossível ao povo palestiniano, de modo a levá-lo a fugir ao genocídio nos seus territórios, num êxodo descontrolado para outros países da região. E uma outra ainda: assistir as forças armadas israelitas, quando a mais que provável guerra entre Israel e o Irão vier a acontecer. São três cenários que só nos podem deixar em alerta máximo. 

Ainda no domínio externo, o verdadeiro desassossego relaciona-se com a China. A nova nata dirigente americana não está particularmente preocupada com a Rússia. Esta não tem uma economia nem uma máquina de guerra que possa fazer frente aos EUA. E as questões da defesa da Ucrânia e da perigosidade de Putin são aparentemente secundárias para Trump e os seus. A China, pelo contrário, é uma obsessão. É vista pelas elites americanas, quer sejam republicanas quer democratas, como uma rival a sério. A questão da Inteligência Artificial, e o seu uso para fins militares e civis, incluindo no domínio da exploração do espaço, é a pista central onde corre a disputa entre ambos os países. O relacionamento dos EUA com a China irá concentrar uma grande parte dos esforços de espionagem, de análise geopolítica e do debate estratégico. Se surgir uma situação de profunda confusão interna nos EUA, o que não é de excluir durante o mandato potencialmente caótico de Trump, a China poderá aproveitar essa barafunda para se apoderar de Taiwan. E nem obrigado dirá. 

No palco doméstico, o maior desafio diz respeito à imigração ilegal. Prometer expulsar mais de 11 milhões de pessoas indocumentadas é falar barato. Levar a cabo essa propaganda é outra conversa. Kristi Noem, a próxima secretária da Segurança Interna e atual governadora do Dakota do Sul, e Tom Homan, que será o chefe dos guarda-fronteiriços, terão essa responsabilidade. Mas a economia americana precisa desses imigrantes, quer como trabalhadores indiferenciados, quer para evitar o aumento dos custos de produção. Quando o cidadão comum se aperceber disso, e das dimensões dilacerantes e desumanas que as expulsões acarretam, não irá aceitar facilmente a brutalidade e o preço dessa política. Poderá estar aí uma das fontes de uma possível violência civil, recearia Einstein.    
  

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