A educação a distância na sociedade digital: um caminho sustentável para a união dos países de língua portuguesa
A educação constitui um alicerce essencial para o fortalecimento das relações culturais e históricas entre os países de língua oficial portuguesa. No atual cenário de transformação digital e desafios globais, a Educação a Distância (EaD) surge como um elemento-chave para a união dos povos, superando barreiras geográficas, económicas e culturais. Num mundo interconectado, mas profundamente desigual, a EaD afirma-se como instrumento de inclusão, inovação e cooperação. A língua portuguesa, partilhada por cerca de 300 milhões de pessoas em vários continentes, constitui um património comum que potencializa a colaboração educacional e a construção de redes de formação que transcendem fronteiras.
A Universidade Aberta, enquanto instituição pioneira no âmbito da EaD, desempenha um papel central na promoção dessas redes e no fortalecimento da Associação de Educação a Distância dos Países de Língua Portuguesa (EADPLP). Esta associação posiciona-se como uma comunidade de conhecimento, com princípios que refletem a sua visão inclusiva, digital e em rede. A EADPLP é aberta, porque defende que a educação deve ser acessível a todos, superando barreiras sociais, económicas e culturais; digital, na medida em que explora plenamente as possibilidades oferecidas pelas tecnologias emergentes; e em rede, promovendo comunidades de partilha e aprendizagem colaborativa para o crescimento coletivo e a inovação.
O VI Encontro da EADPLP, realizado em Cabo Verde nos dias 28 e 29 de novembro de 2024, foi um marco na consolidação deste propósito. O evento destacou a sustentabilidade da EaD como um instrumento de cooperação e desenvolvimento, promovendo estratégias para a sua adaptação aos desafios do século XXI. A revolução digital, impulsionada por tecnologias como inteligência artificial, aprendizagem automática e big data, está a transformar as práticas pedagógicas, projetando uma educação mais inclusiva, adaptável e resiliente. Neste cenário, a EaD emerge como uma solução vital para ampliar o acesso à educação, especialmente em contextos de desigualdade social e limitações infraestruturais.
Contudo, a expansão da EaD enfrenta desafios significativos, como a necessidade de melhorar a infraestrutura tecnológica, capacitar docentes, garantir a equidade no acesso a dispositivos digitais e assegurar financiamentos adequados. A formulação de políticas públicas inclusivas, combinada com a criação de conteúdos adaptáveis às realidades locais, é essencial para que a EaD cumpra o seu papel como motor de transformação social e educativa.
A cooperação internacional destaca-se como um elemento indispensável para enfrentar os desafios globais que impactam a educação, como as mudanças climáticas, crises económicas e disparidades tecnológicas. No contexto lusófono, esta colaboração é ainda mais relevante, considerando as especificidades culturais, económicas e sociais de cada país. A EADPLP atua como catalisador de parcerias entre governos, instituições de ensino e organizações privadas, garantindo a qualidade e a sustentabilidade dos programas de EaD.
Por meio da promoção de cursos e recursos partilhados, bibliotecas digitais multilíngues e programas conjuntos de formação de professores, a EaD democratiza o acesso ao conhecimento, fomenta a troca de experiências e fortalece os laços culturais. Ao mesmo tempo, a educação a distância contribui para a preservação e valorização das identidades culturais e históricas partilhadas pela comunidade lusófona.
Num mundo marcado pela incerteza e desafios globais, a educação permanece como um pilar essencial para a construção de um futuro mais justo e sustentável. A EaD, ao conectar pessoas e instituições em diferentes contextos, promove solidariedade e diálogo entre os povos. A criação de um documento com recomendações políticas e práticas, conforme proposto no VI Encontro, representa um passo decisivo para a formulação de estratégias integradas que assegurem o acesso universal à educação.
A EaD é, assim, um vetor de união e progresso no espaço lusófono, adaptando-se às exigências do século XXI, ao mesmo tempo que honra as tradições e valores partilhados pelos países de língua portuguesa. Exemplos como o desenvolvimento de bibliotecas digitais multilíngues e programas de formação de professores em parceria entre os países lusófonos ilustram como a modernidade pode ser harmonizada com a preservação do património cultural e educativo comum. O compromisso coletivo de governos, instituições educacionais, setor privado e sociedade civil é fundamental para transformar a EaD num pilar de desenvolvimento, integração e solidariedade entre os povos lusófonos. Os governos desempenham um papel crucial ao desenvolverem políticas públicas inclusivas e garantirem investimentos na infraestrutura tecnológica. Exemplos como o Programa Nacional de Educação a Distância de Angola e o ePortugal, que promove a digitalização de serviços educativos, demonstram como iniciativas governamentais podem ampliar o acesso à educação. Além disso, a Estratégia Nacional de Inclusão Digital do Brasil reforça a conectividade em áreas remotas, possibilitando o alcance da EaD a populações mais vulneráveis. As instituições educacionais, por sua vez, lideram na criação de conteúdos pedagógicos adaptados e na formação de professores capacitados para o ambiente digital. Um exemplo notável é a i) colaboração entre a Universidade Aberta de Portugal e universidades de Moçambique, ii) com colaborações com a CAPES, que resultou na conceção de módulos formativos integrados, atendendo às especificidades culturais e linguísticas de cada país na formação contínua de professores da educação básica, iii) iniciativas como o desenvolvimento de plataformas locais para cursos online em Timor-Leste; demonstram como estas instituições podem promover conteúdos educacionais inclusivos e alinhados com as realidades regionais. O setor privado pode contribuir com soluções tecnológicas inovadoras e financiamento para iniciativas estratégicas, como o desenvolvimento de plataformas educativas acessíveis, enquanto a sociedade civil pode reforçar estas ações através da formação de redes comunitárias de apoio digital e campanhas de sensibilização. Por exemplo, parcerias entre empresas de tecnologia e ONGs têm permitido a implementação de programas de capacitação em zonas rurais, garantindo o acesso a dispositivos e internet, bem como à formação necessária para utilizar estas ferramentas de forma eficaz. Juntos, esses atores fortalecem a EaD, contribuindo para um mundo mais conectado e inclusivo.
Vice-reitor (universidade aberta, dezembro de 2024)