A diferença entre Ventura e Mortágua
Diferenças ideológicas à parte, o que separa André Ventura de Mariana Mortágua? Muitas coisas, certamente, incluindo uma que, nos últimos dias e semanas, se tornou evidente. Perante situações em que elementos dos respetivos partidos demonstraram comportamentos incompatíveis com aquilo que o Chega e o Bloco defendem, Ventura e Mortágua adotaram posturas muito diferentes.
À semelhança do que fez Catarina Martins no Caso Robles, em 2018, Mariana Mortágua começou por atacar os jornalistas quando a Sábado revelou que o Bloco de Esquerda rescindiu os contratos de trabalho de várias funcionárias que tinham sido mães há pouco tempo, numa evidente contradição com aquilo que o partido defende. Só depois, quando esta contradição se tornou insustentável, dentro e fora do partido, Mortágua fez uma espécie de mea culpa, sem nunca deixar de atirar contra os malandros dos jornalistas. De seguida, fechou-se em copas e, desde então, tem estado ocupada com as lutas intestinas que são habituais no Bloco nestas ocasiões.
O mesmo sucedeu após a notícia de que um dos seus antigos assessores, que promoveu a recolha de assinaturas para um referendo sobre o Alojamento Local em Lisboa, é afinal proprietário de dois apartamentos que são utilizados com esse fim e não para alojar famílias que precisam de casa.
André Ventura, por sua vez, compreendeu de imediato o que estava em jogo no caso do deputado do Chega que foi acusado de roubar malas no aeroporto, bem como no do deputado municipal que teve relações sexuais com um menor de 15 anos. Ventura foi rápido a reagir e não perdeu tempo a falar em fake news ou teorias da cabala. Pelo contrário, procurou virar o jogo a seu favor, cortando imediatamente com os indivíduos em causa e tentando mostrar ao mundo que não age como os outros líderes partidários.
Ainda é cedo para perceber se esta forma de agir permitirá ao Chega minimizar o impacto destes casos a nível eleitoral, mas muito provavelmente conseguirá sair desta situação quase incólume, ao contrário do Bloco.
Aqui chegados, em abono de Mortágua, é preciso referir que o nível de controlo que detém sobre o seu partido é muito menor do que aquele que Ventura tem no Chega, pelo que este último possui uma margem de manobra muito superior quando se torna necessário cortar o mal pela raiz. Na prática, Mortágua é uma “coordenadora”, enquanto Ventura é um CEO.
Dito isto, estes casos demonstram também que são várias as semelhanças entre os dois partidos, apesar de se encontrarem nos antípodas um do outro. Tanto o Chega como o Bloco têm causas populistas, com moralismo q.b., sendo facilmente enlameados quando alguns dos seus dirigentes agem em contradição com o que os dois partidos defendem. Por outro lado, ambos têm dificuldade em encontrar bons quadros.
Diretor do Diário de Notícias