A democracia precisa de adultos na sala
Nesta semana, do outro lado do Atlântico, as pessoas são chamadas a decidir quem irá ocupar a Presidência da República, um terço do Senado e a totalidade da Câmara dos Representantes, e na Europa, embora pouco se tenha falado no assunto, o Parlamento Europeu vai começar as audições a quem poderá integrar a nova Comissão Europeia. Os resultados destes dois processos indicarão o que poderemos esperar da democracia nos Estados Unidos e na União Europeia nos próximos anos.
Nos Estados Unidos a escolha faz-se entre um candidato que defende o isolacionismo político, o protecionismo económico e tem manifestado uma admiração pouco salutar por ditadores variados. A outra candidata, se fosse europeia, seria uma social-democrata na tradição dos países nórdicos, o que poderá significar para uma parte importante de eleitores americanos uma intromissão exagerada do Estado nas suas vidas. Se os eleitores optarem por Trump, poderemos ter que gerir uma guerra comercial e o afastamento americano da NATO e dos instrumentos de cooperação multilateral.
Na Europa, quando António Costa se sentar à mesa do Conselho Europeu, terá que lidar com as diferenças e contradições que resultam de nove países terem governos onde a direita radical ou a extrema-direita ganharam eleições ou são necessárias para a formação de maiorias de governo.
E no Parlamento Europeu veremos se a aliança entre os partidos moderados do centro-esquerda e do centro-direita se mantém ou se os recentes entendimentos do centro-direita com os partidos da direita radical e a extrema-direita se tornam um novo normal.
Em condições normais, as escolhas que se farão nos Estados Unidos e na União Europeia seriam muito importantes. Mas nós não vivemos em condições normais: as guerras na Europa, no Médio Oriente e em vastas regiões do resto do mundo, onde quase ninguém se lembra do que por lá se passa, a situação económica e a incerteza eleitoral na Alemanha e na França ou a afirmação de modelos políticos e económicos alternativos colocam uma pressão muito significativa nas nossas democracias. Sem esquecer as mudanças profundas que as alterações climáticas e a revolução digital impõem e que não podemos ignorar.
Perante este potencial tsunami de desafios e dificuldades, os partidos moderados têm de ser capazes de se sentarem à mesma mesa, trabalharem para resolver as aflições das pessoas, colocando de parte as suas divergências e sem perderem tempo a contabilizar as pequenas vitórias partidárias que só aos interessados diretos interessam. Precisamos de adultos responsáveis na sala onde se tomam as decisões importantes ou corremos o risco de ver os arautos das soluções simplistas, que não acreditam na democracia, tomarem-nas por nós.