A crueldade comunista que o país aceita
Em praticamente toda a Europa (excluindo Rússia), só mesmo Portugal não lê, hoje, “comunismo = crueldade”. Isto apesar de, também por cá, os exemplos se acumularem. Mas já lá vamos. Além do velho argumento das “razões históricas na luta contra o fascismo”, a excelente imprensa que as ideologias comunistas e semelhantes (marxistas ortodoxas, trotskistas, maoistas...) sempre tiveram, deram um nível esculpatório a quem sempre fechou (e fecha) os olhos a alguns dos maiores crimes contra a Humanidade.
O atual argumento muito propalado de que a queda da URSS, no início dos anos 1990, foi o fim de uma era e, como tal, permitiu fazer “reset” a um regime com bons fundamentos é, no mínimo, risível - e desrespeitoso das vítimas não apenas na Rússia, na Ucrânia e em todos os países que foram anexados pelos soviéticos no séc. XX, bem como no Camboja, ou em Cuba, na Coreia do Norte, na Venezuela ou em qualquer outra nação que ainda vive o “sonho comunista”. Mas, como se viu nos debates para as eleições de domingo, trazer à colação este argumento perante um partido da nossa esquerda é (parafraseando o líder do partido marxista mais ortodoxo da UE), “nheca nheca”. As vozes silenciadas dos mais de 65 milhões de vítimas das doutrinas ‘vermelhas’ continuam a não se ouvir neste país…
O marxismo foi talvez mais bem definido por Bertrand Russel, em 1956, quando disse que o pensamento de Marx “é quase totalmente inspirado pelo ódio”: desde a aceitação tácita das ideias de Malthus (ainda que diga que as repudia, na prática concretiza-as - vide Estaline); à criação da quasi-mística doutrina dialética materialista, que tem como objetivo essencial a promoção do ódio a quem tem riqueza (e poder).
Tal como os igualmente abomináveis nazismo e nacional-socialismo, primos direitos do comunismo, por quanto são igualmente totalitários, colocam o Estado antes do indivíduo e (como tal) resultam, sempre, em milhares ou milhões de mortos, as ideias que nascem do ódio tendem a ser bem populares, pelo menos em alguns períodos. Para piorar, ao contrário da extrema-direita, a esquerda veste-se de cordeiro - ou melhor, do cão pastor protetor dos mais fracos do rebanho. Isto, até ao momento em que estes dão jeito para carne para canhão. Foi o que se viu por cá, nos últimos dias, na greve da CP.
É cruel olhar para as reportagens com centenas de pessoas a tentarem entrar em autocarros a abarrotar para irem trabalhar, numa vida que já é difícil e que, de repente, ficou ainda mais infernal, e sentir-se orgulhoso porque a “luta laboral” está a “correr muito bem”, nas palavras de quem convoca a greve.
E isto não tem a ver com a questão de que as greves só têm efeito se provocarem dano. Porque devemos perguntar: dano a quem? Na origem, a greve servia para dar prejuízo ao “patrão”, o que detém “o capital” e que deixa de “lucrar”, porque a produção paralisa. Mas com a criação (artificial) de monopólios do Estado, esta realidade muda-se para o combate político entre quem está no poder e quem lá quer chegar… E que se lixe quem sai ‘morto’ ou ‘ferido’.
É a teoria da luta de classes no seu ‘esplendor’. Aquelas pessoas que tentam chegar aos empregos (ou os utentes do SNS que, numa greve da Saúde, ficam sem uma cirurgia; ou os alunos sem aulas…) deixam de ser vistos pelos líderes sindicais (e os seus camaradas) como indivíduos (se é que alguma vez o foram). Passam a ser instrumentos “da luta”, tão sacrificáveis, como os jovens que Estaline enviava para serem abatidos em Estalinegrado na II Guerra - e que se dessem um passo para trás eram abatidos pelos soldados do seu próprio Exército Vermelho lá destacados só para isso.
As teorias do ódio, à direita ou à esquerda, resultam nisto. Sempre. Por favor! Já é mais do que tempo de a nossa democracia chegar à idade adulta e pô-las no caixote do lixo que merecem.
Editor do Diário de Notícias