A corrida europeia a armas nucleares

Publicado a

Na guerra na Ucrânia, Putin tem ameaçado utilizar armas nucleares. Com isto, relembra ao Ocidente que é uma superpotência nuclear e sinaliza que uma potência com armas nucleares não pode ser derrotada numa guerra convencional por um país sem tais armas, sob risco de utilização destas.

Em 1994, a Ucrânia prescindiu do seu arsenal nuclear, em troca de garantias de segurança dos EUA, Reino Unido, França, China e Rússia quanto ao respeito das fronteiras e da soberania da Ucrânia. Vimos o que vale esse acordo. E a Ucrânia não beneficia da cláusula de solidariedade do artigo 5.º no Tratado do Atlântico Norte, como os países da NATO têm reafirmado.

Os países europeus da NATO e o Canadá beneficiam do guarda-chuva estado-unidense de proteção nuclear. Mas as sucessivas declarações de Trump recusando honrar o referido artigo 5.º, a possibilidade de, nos EUA, o poder continuar na mão de políticos que consideram a UE sua inimiga, e o facto de sondagens mostrarem que >40% dos republicanos consideram a Rússia um país amigo, fazem com que o guarda-chuva nuclear dos EUA não seja mais confiável para os aliados europeus.

Por outro lado, longe vão os tempos em que podíamos acreditar na interdependência económica com a Rússia como garantia de uma paz duradoura na Europa. Existe um consenso europeu (com exceção do Cavalo de Tróia húngaro) sobre a necessidade de reforçar a Política Comum de Segurança e Defesa, com investimentos significativos.

O novo chanceler alemão anunciou ir proceder a um rearmamento massivo e a Polónia (que perdeu 6 milhões de cidadãos na II Guerra Mundial) deverá afetar 5% do seu Orçamento a despesas militares, sendo provável que os países do Leste europeu a acompanhem na tendência, tal como os países nórdicos.

Apesar da disponibilidade de Macron para estender o guarda-chuva nuclear da França, não se pode estar certo de que tal se manterá se a extrema-direita chegar ao poder em França.

Apesar dos riscos da proliferação, muitos países consideram que a posse de armas nucleares melhora a sua segurança. Atenta a ameaça russa, e a mudança da sua política de utilização de armas nucleares, a Polónia anunciou que irá criar o seu próprio arsenal nuclear e Merz diz que a Alemanha está a ponderar (a opinião pública ainda é contra). A Finlândia está a rever a lei finlandesa da energia nuclear (atualmente existe proibição legal de armas nucleares). A Turquia almeja há muito ter armas nucleares e está a criar massa crítica para as produzir. A Ucrânia dispõe de know-how tecnológico para as desenvolver e tem um grupo estatal (Yuzhnoye) com capacidade para lançar mísseis balísticos intercontinentais.

Trump aplicou também a sua política “transacional” ao Japão e à Coreia do Sul tornando também para eles condicional o guarda-chuva nuclear americano. Não é preciso ser um génio para perceber o que vai suceder.

Consultor financeiro e business developer

www.linkedin.com/in/jorgecostaoliveira

Diário de Notícias
www.dn.pt