A Casa Branca e a morte da democracia

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Há um racional nas medidas que Trump tem decidido para a maior economia do Mundo? Talvez existam, apenas, consequências do ímpeto tarifário de Trump. E essas, por agora, já são percetíveis. Do lado positivo fica o facto dos juros da dívida terem caído ainda que, ligeiramente, e num valor considerado residual. E o dólar desvalorizou tornando mais competitivas as exportações estado-unidenses.

Mas isso não será mais do que simples consequências provocadas por um presidente que usou a bomba atómica para tentar resolver o problema da enorme dívida dos Estados Unidos. Como disse ao New York Times, Bill Ackman, quadro financeiro de Wall Street, Trump poderá ter desencadeado “um Inverno nuclear económico”.

E terá sido esta ameaça de “Inverno nuclear” que levou Trump, em desespero de causa, a suspender por 90 dias a aplicação de tarifas a todos os países que pediram a renegociação das mesmas. A sistemática queda das bolsas terá forçado o inquilino da Casa Branca a uma atitude mais sensata.

Numa perspetiva negativa ouvem-se vozes criticas às iniciativas de Trump. A recessão pode estar à porta da Casa Branca mas, também, de todo o Mundo. Há 60% de possibilidades dos Estados Unidos entrarem em recessão, prevê Bruce Kasman, economista chefe do J.P. Morgan. E o PIB nos Estados Unidos poderá cair entre 1, 5% e 2% advertiu Bhanu Baweja, economista-chefe do banco suíço UBS.

Os avisos de prudência que Trump teima em não ouvir surgem de todos os quadrantes, muito em especial do lado democrata. Larry Summers ex-secretário de Estado do Tesouro na Presidência de Bill Clinton afirmou que “esta foi a ferida mais profunda infligida à economia norte-americana”. Uma ferida que pode empobrecer os Estados Unidos, fazer subir a inflação, deixando cair o país num ciclo recessivo, incontrolável.

Após ter suspenso as tarifas, Trump agravou-as para a China no valor de 145 % país que parece ser, agora, a alvo preferencial da fúria Trumpista.

Quando há duas semanas vos referi que me deixava incrédulo a passividade do Partido Democrata e a inexistência de uma oposição a Trump visível aos olhos do Mundo, eis que nos 50 Estados e nalgumas cidades da Europa aconteceram manifestações de protesto contra as politicas económicas de Trump. E surgiram os primeiros sinais de fratura nas hostes do Partido Republicano. Há tentativas, ainda que discretas, de refrear os ímpetos tarifários de Trump. Don Basco, congressista republicano do Nebraska apresentou uma moção na Câmara dos Representantes no sentido de reafirmar a autoridade do Congresso no que respeita às políticas tarifárias norte-americanas, tendo sido apoiado por mais sete congressistas republicanos.

Por agora não são ainda fortes os ventos de contestação a soprarem do lado republicano, mas talvez já comece a haver ligeiras brisas de incómodo.

Mas indiferente a tudo, Trump prossegue a sua trajetória rumo a uma impensável ditadura num país farol da democracia. Vale tudo! Ordens Executivas sem passarem pela Câmara de Representantes e pelo Congresso. Regulamentos inconstitucionais. Intimidações públicas. Despedimentos. Saneamentos políticos. Ataques aos Media. O general Timothy D. Haugh, chefe dos Serviços de Segurança, foi afastado, sem explicações, depois de Laura Loomer, uma conselheira de Trump ativista de extrema direita, o ter convencido a despedir este alto quadro afirmando que ele criticava as atitudes presidenciais.

Ao mesmo tempo no Departamento de Justiça Trump despediu Charlie Savage, um dos mais reputados assessores jurídicos. Alguém que, habitualmente, defendeu, ao longo dos anos, as causas governamentais. Em sua substituição surgiram advogados yes man, da confiança de Trump. Como resultado os documentos legais da Casa Branca deixaram de ter uma avaliação jurídica institucional, como acontecera sempre.

No capítulo dos direitos humanos e do ataque aos sindicatos o incrível acontece.

O direito de asilo é posto em causa perante a espanto dos escritórios de advogados independentes que defendem que um Presidente não pode proibir o direito de asilo, desde que o cidadão que o pede reúna as condições para que esse direito lhe seja concedido.

A cidadania dos bebes nascidos em solo americano deixou de ser reconhecida quando os pais não têm a documentação, totalmente, legalizada numa atitude que é considerada inconstitucional.

Os ataques aos direitos sindicais são igualmente o “pão nosso de cada dia” da Presidência de Trump. Os sindicatos de Overland, na Califórnia, apresentaram uma queixa em tribunal contra Trump e o seu governo , por este pretender cercear os direitos sindicais a cerca de um milhão de trabalhadores do Estado.

Trump assinou, também, uma Ordem Executiva atribuindo aos funcionários de duas dezenas de agências governamentais funções de “missão de segurança nacional”, procurando, deste modo, impedir a sua sindicalização, quando se sabe que estes funcionários não desempenham tarefas ligadas à segurança do país.

Ainda no campo da Justiça, Trump acionou uma ação judicial num Tribunal do Texas permitindo à agências federais o cancelamento dos acordos coletivos de trabalho privando, assim, os seus funcionários de proteção sindical e retirando aos sindicatos quotas no valor de milhões de dólares.

Estas são, pois, atitudes de um candidato a ditador que vai tentando matar a democracia na Casa Branca.

Jornalista

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