A América deve continuar a liderar?
Na democracia que lidera o mundo ocidental, um candidato à Presidência da República, à frente nas sondagens eleitorais, escapou a um atentado à bala, disparada a 150 metros de distância por um atirador que, supostamente, os melhores serviços secretos do mundo não viram.
Na democracia que lidera o mundo ocidental, o Presidente da República em exercício considerou-se incapaz de prosseguir na campanha eleitoral e desistiu da recandidatura que o seu partido, num quase unanimismo suicida, aprovara meses antes.
Na democracia que lidera o mundo ocidental, um debate eleitoral entre aqueles dois homens mostrou como o comando político do país esteve, nos últimos sete anos, na posse de duas personalidades cujo quadro mental tem demasiadas aproximações à demência clínica: um pelas sucessivas explosões de incontinência verbal agressiva, outro pela incapacidade cognitiva aparente e pela inconsistência do discurso - foi isto que andou a capitanear o Ocidente.
Na democracia que lidera o mundo ocidental, a pessoa que vai substituir o candidato desistente, o ainda líder da nação mais poderosa do planeta, garantiu, de um dia para o outro, os apoios necessários, sem ter de repetir eleições primárias dentro do seu partido. A nova candidata assegurou, em menos de 24 horas, com alguns telefonemas, donativos no valor de 81 milhões de dólares, um recorde de obtenção de fundos em tão curto espaço de tempo.
Na democracia que lidera o mundo ocidental, os milhões que os grandes empresários dão aos seus candidatos afastam as verdadeiras alternativas políticas, pois quem não recebe grandes quantidades de dinheiro dos ricos não é capaz de fazer propaganda eficaz num país que tem 77 vezes a área de Portugal.
Na democracia que lidera o mundo ocidental, desconhecem-se os verdadeiros compromissos que os candidatos fazem com os doadores milionários. Para além de não se saber que pactos foram estabelecidos em política interna, o que prometeram aos tycoons e influencia decisivamente o resto do mundo é igualmente secreto: o que garantiram estes candidatos aos seus patronos sobre a guerra na Ucrânia? E sobre a Palestina? E sobre as relações com a União Europeia? E sobre os conflitos com a China, o Irão, a Coreia do Norte, a Venezuela? E sobre a corrida aos armamentos? E sobre a ONU? E sobre a internet? E sobre a Inteligência Artificial? E sobre o mundo financeiro? E sobre o meio ambiente? E sobre a liberdade de expressão? E sobre imigração? E sobre...
A democracia que lidera o mundo ocidental não é, demonstram estas eleições, um regime de confiança, de lucidez, de honestidade, de bom senso, de lealdade.
A democracia que lidera o mundo ocidental, vença quem vencer as suas Presidenciais, não devia, simplesmente, liderar o mundo ocidental. Afinal, com o que se vê e o que não se vê, como é possível confiar nos seus políticos?