2025, o ano bipolar!

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Nesta fase do ano os comentadores dedicam tempo a opinar sobre como pensam que 2025 será. Eu não sei como será, mas acredito que possa ser bipolar!

Por um lado teremos uma corrente mundial a favor de um capitalismo extremo simbolizado por Donald Trump e Elon Musk, e por outro um statu quo em decadência popular que defende o diálogo, o iluminismo e a tolerância, simbolizado pela Europa.

O capitalismo extremo, disfarçado de protecionismo pelo “nacional”, de simplicidade na comunicação e de oposição ao sistema vigente, está cheio de pouca honestidade intelectual e de conhecimento pela forma como “as coisas realmente são”. Por vezes penso que “aqueles que votaram Trump serão aqueles que irão para as ruas dizer que já não o querem”.

O capitalismo extremo defendido por Trump e Musk, é aquele em que as grandes empresas, e as pessoas mais ricas, pagam cada vez menos impostos; onde a produtividade aumenta devido à automação e à diminuição da proteção social; podendo tudo isto levar a uma economia em que as grandes empresas, e milionários, arrecadam uma quantidade tal de dinheiro que implica deixarem pouco para o resto da sociedade.

Já o economista Stiglitz afirmou, num artigo de novembro do ano passado, que Trump transmite a ilusão de que baixar impostos e uma menor regulação vai melhorar a qualidade de vida dos Americanos, quando na realidade se tal acontecer ele fará com que os americanos “vivam mais pobres, de forma mais dura e mais curta”. Uma economia em que não há partilha de rendimentos por toda a sociedade a procura não aumenta (pois os mais ricos não compram tanto como os milhões de habitantes), as empresas deixam de vender tanto, os salários não sobem e a economia estanca.

Numa economia estagnada pela falta de procura não há incentivo ao investimento. As grandes empresas, e os milionários, preferem então investir noutras regiões onde há um aumento de procura, deixando assim de ter incentivo para investir na sua própria economia. Sem redistribuição da riqueza não há crescimento.

No capitalismo extremo os temas climáticos e a importância de diminuirmos os impactos ambientais negativos no planeta, deixa de ter importância política, pois consideram-se esses temas como sendo de luxo e supérfluos, uma vez que eles só causam bloqueios ao crescimento da economia de hoje e desemprego.

No capitalismo extremo os temas de ESG e de gestão de riscos climáticos também deixam de ser considerados como deveres da boa gestão fiduciária, passando mesmo a ser identificados como antifiduciários, uma vez que podem implicar opções de investimento que não maximizam hoje o retorno, independentemente de poderem minimizar as perdas no futuro.

A abordagem de tolerância, diálogo e iluminismo que caracteriza a Europa, e que a coloca como líder da política internacional ambiental e social, tem uma visão do mundo completamente diferente. Aqui as pessoas e o planeta têm direitos e deveres, e a paz só se consegue manter se a redistribuição de riqueza e as condições de vida de toda a população conseguir melhorar ao longo do tempo. Nesta visão do mundo, a qualidade de vida daqui a 10 e 20 anos é importante para os decisores políticos e empresariais, e por isso nem tudo o que se faz hoje traz retorno imediato, mas sim trará um retorno futuro. E isso será fundamental para a paz.

Para a Europa é fundamental que o sistema financeiro e as empresas respeitem os Direitos Humanos, os limites do planeta e incorporem os riscos ambientais no cálculo da minimização dos riscos futuros. Parece-me a mim que esta visão do mundo é mais equilibrada do que a do capitalismo extremo.

Estamos a misturar visões do mundo com métodos de trabalho. E isso é um erro. A Europa é criticada por ser burocrática e não conseguir promover a inovação à velocidade dos EUA. Então o que se deve atualizar e melhorar é o método de trabalho e não pôr em causa a visão do mundo que a Europa tem. E isso já está identificado no Relatório de Mario Draghi. No entanto, tudo isto é muito difícil de explicar e requer uma nova mentalidade de ação pelo sistema. Um sistema pesado que precisa de se atualizar.

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