O prémio Nobel da Economia deste ano foi para Richard Thaler, da universidade de Chicago, pelas suas contribuições para a economia comportamental. Este ramo da economia estuda os vários erros que as pessoas fazem nas suas escolhas, muitas vezes inspirado em experiências no campo da psicologia. A contribuição de Thaler foi mostrar que alguns destes erros são sistemáticos, pelo que podem ser estudados com modelos económicos, de forma a melhor compreender e prever o comportamento humano..Se o prémio não foi surpreendente, a cobertura pela imprensa não deixou de ser curiosa. Seguindo uma estratégia de sucesso garantido para qualquer economista que queira ganhar fama com o público em geral, Thaler escreveu um livro Misbehaving em que mistura a história das descobertas na economia comportamental com uma autobiografia que o pinta como um rebelde em luta com o mainstream económico. Por muito que esta jogada de marketing seja repetida (Krugman, Piketty, Stiglitz, …), os jornalistas caem sempre como patinhos, sem nunca questionarem como é que estas pessoas, que ganharam todos os prémios e honras que a comunidade científica de economistas tradicionais atribui por maioria ou consenso, podem ser remotamente outsiders. No caso de Thaler, ganhou a votação dos membros da associação americana de economistas (a maior associação de economistas) para ser o seu presidente há apenas três anos!.Outra característica engraçada das notícias sobre o Nobel foi a afirmação repetida que este Nobel era a primeira marca de os economistas estarem a questionar a racionalidade dos seres humanos. A economia comportamental estava finalmente a ser reconhecida. Só que os prémios Nobel de 1978 (Simon), 1993 (Fogel), 2001 (Akerlof), 2002 (Kahneman), 2009 (Ostrom), 2013 (Shiller) foram para economistas que descreviam o seu trabalho como fazendo parte da economia comportamental; outra mão cheia de laureados tem trabalho científico sobre as limitações da racionalidade. A economia comportamental é completamente mainstream e reconhecida, tão consensual como a macroeconomia ou a economia do desenvolvimento. Se algo, está talvez ligeiramente sobre representada nas honras e prémios em relação ao número de cientistas no campo..Curiosamente, a última grande contribuição científica de Thaler pô-lo em confronto com muitos psicólogos e economistas comportamentais. Thaler, com Cass Sunstein, propõe que os governos se aproveitem das falhas das pessoas para as “empurrarem” a tomar as decisões certas (por exemplo, evitar má comida, poupar para a reforma, pagar impostos) mas sempre deixando à sua escolha o que fazer..A tradição na economia comportamental era antes, ou compreender as falhas das pessoas sem as tentar influenciar, ou tentar comunicar às pessoas os seus erros educando-as a superá-los. As consequências éticas deste “paternalismo benevolente” dos governos para com os cidadãos são profundas e podem vir a ser o grande legado de Richard Thaler..Professor de economia na London School of Economics