Opinião. Bolsonaro livre e solto

A menos de 14 meses das eleições presidenciais de 7 de outubro de 2018, oito candidatos a candidatos, avançam, cada um com as suas limitações
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A menos de 14 meses das eleições presidenciais de 7 de outubro de 2018, oito candidatos a candidatos, metade de esquerda, metade de direita, avançam, cada um a seu ritmo, cada qual com as suas limitações e os seus trunfos mas, sobretudo, todos eles com os seus condicionalismos. Todos, menos um.

Lula da Silva, líder em todos os cenários de primeira volta nas sondagens, tem um condicionalismo óbvio: a justiça. Caso o tribunal de segunda instância confirme em tempo útil a sentença de nove anos e meio de prisão decretada pelo juiz Sergio Moro no primeiro grau, o presidente de 2003 e 2010 fica impedido de concorrer. Ou se não ficar, desencadeia pelo menos uma demoradíssima trapalhada jurídica, fatal para os seus anseios.

O condicionalismo de Fernando Haddad, o ex-prefeito de São Paulo que encanta a esquerda jovem e informada, é o mesmo. Não que o quadro do PT tenha complicações com a justiça - nada disso - mas só tem ordem para avançar, como plano B do seu partido, se os tribunais travarem a candidatura de Lula. Situação parecida com a de Ciro Gomes, do PDT, que em entrevista este ano ao DN, sujeitou a sua candidatura, também da área do centro-esquerda, a um eventual impedimento do antigo sindicalista.

O condicionalismo da última concorrente da esquerda, Marina Silva, é, como de costume, a própria Marina Silva. Apesar de tudo conspirar a seu favor – a Lava-Jato dizimou a forma de se fazer política que ela sempre criticou e tem um um partido criado para satisfazer todas as suas necessidades – hesita, hesita e volta a hesitar antes de se afirmar como candidata para angústia dos seus apoiantes.

No centro-direita, o governador do rico, superpovoado e influente estado de São Paulo Geraldo Alckmin, do PSDB, deveria estar hoje a festejar a morte política do até há meses seu principal obstáculo no partido, o acossado pela Lava-Jato Aécio Neves. Mas, pelo contrário, perde o sono com um obstáculo que involuntariamente inventou: João Doria, prefeito da capital do estado. Há um ano, Alckmin, para marcar território e mostrar músculo, impôs Doria ao partido como candidato às municipais na megalópole. Ganhou. Mas viu a criatura virar-se contra o criador e tornar-se por força de uma popularidade súbita o nome mais querido do eleitorado do PSDB. Agora, Alckmin depende da força pessoal de Doria e Doria depende da força coletiva de Alckmin dentro do partido de ambos.

Na área do governo, o ministro das finanças Henrique Meirelles nunca negou que sonha com o Planalto. Mas tem um condicionalismo implacável: a crise no país. Caso o seu desempenho melhore a vida dos brasileiros, ganha fôlego e competitividade eleitoral; caso contrário, perde-a irremediavelmente. O adiamento da recuperação da economia – a nova meta orçamental por si apresentada na semana passada atrasa em dois anos a retoma – terá sido mortal para as suas esperanças políticas. Agora só um milagre.

Eis-nos então chegados ao único candidato que ao contrário de Meirelles até se beneficia com a crise, que ao contrário de Lula não tem a justiça à perna, que ao contrário de Haddad e Ciro não depende de outrem, que ao contrário de Marina usa com eficácia o partido construído em seu redor e que ao contrário de Alckmin e Doria não tem concorrência interna. É Jair Bolsonaro, o adepto da tortura na ditadura militar que preferia ter um filho morto a um filho gay, e que, apesar de já ser segundo nas sondagens, é tratado por enquanto apenas como uma piada de mau gosto. A menos de 14 meses das eleições presidenciais americanas do ano passado Trump também era.

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