A “evolução da criminalidade” desde 2006 regista “uma tendência de descida, tanto na criminalidade geral como na criminalidade violenta e grave”. Num “ciclo de 18 anos” de análise, porém, os valores dos recentes relatórios anuais de segurança interna (RASI) registam “acréscimos”. .No ano passado, em relação a 2022, a “criminalidade violenta e grave”, por exemplo, que representou 3,8% de “toda a criminalidade participada”, subiu 5,6% enquanto a criminalidade geral aumentou 8,2%..Estes dados “gerais” e os “detalhados”, como refere ao DN um responsável da segurança interna, que “escondem a realidade dos crimes que não são participados às autoridades”, revelam, contudo, uma “inversão que começou depois da pandemia” e sobre a qual “não há ainda indicadores que nos digam se são tendência ou dados conjunturais”. Mas, o facto, avisa, é que “há uma mudança de paradigma nos últimos anos”. .O que os dados da criminalidade geral indicam, para já, é que os casos de “abuso de confiança fiscal” (180%), “abuso de cartão de garantia ou de crédito” (+67%), “outras burlas” (+39) e “tráfico de estupefacientes” (+20%) dominam..Na “criminalidade violenta e grave”, a “extorsão” (+25,8%), o “rapto, sequestro e tomada de reféns” (22%), a “resistência e coação sobre funcionário” (+13,2%) assumem o topo das participações. O alerta surge também na “criminalidade grupal”, que subiu 14,6% - que abrange “jovens” com uma média de 23 anos de idade - e que tem maior incidência nas áreas metropolitanas. A delinquência juvenil teve um aumento de 8,7%..Para Francisco Rodrigues, presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo, os dados dos RASI “têm demonstrado que apesar de haver nalguns setores um aumento da insegurança, e embora tenha havido um aumento nos últimos anos, a verdade é que somos um país seguro, não há motivo para alterarmos essa perceção”. .O que se passa, considera, é que “como somos um país tranquilo em que felizmente nada acontece comparativamente com outros países, sempre que ocorre uma ou outra situação que sai dessa normalidade há a tendência para as pessoas lhe darem uma dimensão diferente”..A questão da “perceção pública”, no entanto, pode ser “alterada” e exemplo disso é “a utilização dos dados do ponto de vista partidário” que “tem feito com que as pessoas passem a percecionar de forma diferente, ou pelo menos influencia a perceção de uma realidade inexistente”..Nelson Lourenço, presidente do Grupo de Reflexão Estratégica sobre Segurança, por seu lado, considera que “embora os portugueses saibam que Portugal continua a ser um país seguro, a presença da polícia tem certamente um efeito tranquilizador”..O professor catedrático jubilado da Universidade Nova de Lisboa defende, assim, que “seria bom um policiamento de proximidade mais efetivo. Nos bairros e durante eventos com grandes aglomerados de pessoas”..“O reforço ocasional de ações de polícia, como as realizadas nos últimos dias, parece-me um ato cuja razoabilidade é justificável no quadro das políticas de segurança interna, particularmente depois dos eventos que infelizmente perturbaram o quotidiano de Lisboa durante uma semana”, justifica..Um alerta: “O sentimento de insegurança é algo simultaneamente frágil e vital para uma sã vivência democrática, protegê-lo é certamente a missão fundamental das polícias”. .André Inácio, especialista em criminologia, especialista na área da segurança e antigo investigador da PJ, também em declarações ao DN, alerta para o facto de “já termos tido um país mais seguro, apesar de ainda sermos um país seguro”. .“É que têm acontecido casos de uma forma gritante”, acentua, “uma série de episódios desde o caso de Tancos que revelam ou sugerem a necessidade de elevar os padrões de segurança. Não se pode é deixar a ideia de que só não há mais porque não calha.”.Não serão somente casos episódicos? “Até podem ser, mas a verdade é que acontecem, são muitos e de tal forma impactantes que colocam dúvidas sobre se o sistema de segurança funciona ou não”, responde, acrescentado que “mais vale prevenir que remediar”..Por isso, considera, “é papel do Governo dizer aos cidadãos que está preocupado, que é uma prioridade e que tudo quer fazer para que as coisas melhorem”. .Foi isso visível na declaração ao país de Luís Montenegro? “As reações ao que disse foram tão contrárias que só o primeiro-ministro pode explicar o que quis dizer”, diz Adelino Maltez..“Não disse nada de novo, foi o discurso de um lugar comum. A não ser que haja um motivo que se desconheça e que dentro de dias se venha a saber. Nestas matérias não há nada como a prudência. Pode ser um problema de controlo da polícia, até pode ser o dar força em público a uma ministra desajeitada”, afirma o professor de Ciência Política..Em suma, resume, Luís Montenegro “disse banalidades discursivas que qualquer ministro do PS ou CDS poderia dizer”.