A Inteligência Artificial (I.A.) constitui uma realidade inevitável e inegável da sociedade atual. É impossível ficar indiferente ao seu potencial de inovação, patente, por exemplo, nos novos softwares, como o mediático Chat GPT, que têm polarizado a discussão e incitado à reflexão sobre a temática..Há alguns anos, não muitos, diziam-nos que a inteligência artificial iria ter muito impacto no futuro. Para os estudantes universitários, esse futuro chegou. No estudo da Medicina, em particular, a Inteligência Artificial já demonstrou possuir vários atributos. Não só consegue responder acertadamente às questões mais difíceis dos exames, mas também tem um papel facilitador na pesquisa, contribuindo para um maior e melhor acesso ao conhecimento..Todavia, a Inteligência Artificial não é isenta de riscos e levanta questões de ordem ética - já existem relatos de fraude relacionados com a utilização do Chat GPT -, que devem ser avaliadas. Urge refletir, docentes e discentes em conjunto, para abordar as várias implicações da tecnologia no futuro da Saúde e da investigação científica em Saúde..E o que se passa nas nossas instituições? as universidades portuguesas estão preparadas e a preparar os seus estudantes para os desafios da I.A.? .Nativos digitais por excelência, os atuais estudantes universitários sentem, de forma particular, a desadequação do ensino tradicional. E continuam a suportar uma metodologia de ensino convencional e arcaica, sem qualquer aplicação no seu futuro. Não é de admirar que as suas e nossas vozes vão subindo de tom pela necessária mudança e por instituições de ensino que privilegiem o seu espírito crítico e não continuem a alienar-se das exigências da digitalização..Temos consciência, no entanto, que é imprescindível edificar infraestruturas tecnológicas para que a desejada modernização do ensino superior aconteça. E universidades cronicamente subfinanciadas, como as instituições portuguesas, não apresentam as melhores condições para que a mudança se instale. Receamos, por isso, o prolongamento, por tempo indefinido, deste status quo e que novas gerações de estudantes continuem sem acesso à melhor e mais recente tecnologia, bem como a um corpo docente atualizado e preparado para responder aos novos desafios. Afirmamos, por isso, a urgência de um maior apoio e financiamento para que as universidades portuguesas possam enfrentar as "dores" da mudança..Por sua vez, os estudantes em geral e, em particular, os estudantes de Medicina têm a obrigação de liderar o caminho do progresso, recorrendo à Inteligência Artificial de forma crítica e estruturada. Acreditamos que a I.A., se utilizada de forma responsável, amplie os benefícios da prática médica e da qualidade dos serviços prestados, permitindo uma maior dedicação à relação médico/doente e às várias componentes da relação humana, insubstituíveis pelo progresso tecnológico..Bastam alguns segundos para que a Inteligência Artificial produza uma resposta médica eficaz. Esperemos que o Governo, as universidades e as escolas médicas não demorem muito mais do que isso a compreendê-lo. Não nos podemos esquecer que o Futuro de ontem é o Presente de hoje para muitos jovens. E para quando será o do ensino superior?.Vasco Cremon de Lemos, Presidente da Associação Nacional de Estudantes de Medicina