O domínio real do Brasil no futebol sul-americano

Pela primeira vez na história, quatro clubes do mesmo país chegam às finais das duas maiores provas de clubes do subcontinente. Culpa do peso argentino que está ainda mais desvalorizado do que a moeda brasileira.
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O "é a economia, estúpido" chegou ao futebol sul-americano: pela primeira vez na história, um país, não por acaso o mais rico do subcontinente, apurou quatro representantes para as finais das duas principais provas de clubes.

Os brasileiros Flamengo e Palmeiras, este último treinado pelo português Abel Ferreira, estarão na final da Taça dos Libertadores da América, a 27 de novembro, em Montevideu. Na mesma cidade, mas uma semana antes, os também brasileiros Red Bull Bragantino e Athletico Paranaense, ex-equipa do lusitano António Oliveira, disputam a decisão da Copa Sul-Americana.

A economia brasileira está frágil desde mais ou menos 2014. Mas a crise da Argentina, principal concorrente futebolístico e segundo maior país da região, é ainda mais profunda e antiga. Afinal de contas, o real vale hoje 18,58 pesos argentinos, um recorde.

"A desvalorização do peso, a inflação e o cachê baixo dos direitos de televisão ajudam a aumentar uma diferença económica cada vez maior", observa o colunista argentino Andrés Burgo, em análise publicada pelo jornal Diário. "O campeão da Copa da Argentina recebeu em prémios 2% do que ganhou o vencedor da Copa do Brasil", exemplifica.

Do lado brasileiro, o especialista em finanças do futebol Marcelo Segurado tem visão semelhante mas não deita foguetes. "No máximo só cinco clubes do Brasil estão a conseguir ter essa hegemonia continental, em função do poder económico". "Depois", continua, "tendo em conta que ainda em 2018 a final da Libertadores foi um [superclássico argentino] Boca-River, estamos a lidar com um fenómeno muito recente".

Historicamente, aliás, a Argentina com 29 títulos na Libertadores e nove na Sul-Americana, contra 21 e seis do Brasil respetivamente, ainda domina.

Ouvido pelo DINHEIRO VIVO, o jornalista do Globoesporte Paulo Vinícius Coelho faz a ponte entre a economia e o futebol. "A questão económica é central, só o Atlético Mineiro, que por acaso eliminou Boca e River ao longo da competição, tem sete jogadores de outras seleções sul-americanas, o que enfraquece os clubes desses países".

Mas, como Segurado, também Coelho não se deixa empolgar demasiado. Mesmo à frente, muito à frente da Argentina e demais vizinhos, os clubes brasileiros estão atrás, muito atrás, dos gigantes europeus.

Afinal de contas, o euro vale hoje 6,3 reais, outro recorde.

Jornalista, em São Paulo

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