Voto pelo "Nulo" tem comícios e até jingle

Segunda volta das municipais na cidade brasileira tem dois candidatos da coligação do governo Temer. E uma insólita terceira via: "É uma forma de protesto", diz ao DN o autor da ideia
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Como em todas as segundas voltas, sobram apenas dois candidatos nas eleições deste domingo para prefeito de Porto Alegre, a capital estadual mais a sul do Brasil. No entanto, há em simultâneo três campanhas eleitorais. Três comícios. E até três jingles. É que um grupo de cidadãos porto-alegrenses que não se sente representado pelos dois candidatos decidiu fazer campanha formal pelo "voto nulo".

O candidato a prefeito é então o "Nulo" e o candidato a vice-prefeito a "Abstenção", numa campanha criada pelos produtores musicais Valmor Pedretti Junior e Leo Prestes que compuseram o tema de campanha.

O jingle, cujo título é "Anula Lá", numa alusão ao "Lula Lá", música dos anos 80 e 90 das candidaturas presidenciais de Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), reza assim: "Anula Lá/Pegue um Número Aleatório e Confirme Depois/Eu Prefiro Votar no Diabo do que Nesses Dois".

Partilhado 200 mil vezes no Facebook, o sucesso do jingle do candidato "Nulo" é a prova de que a onda não pode ser levada só na brincadeira. Na primeira volta, quem votou nulo, branco ou se absteve (e no Brasil o voto é obrigatório, sob pena de multa) já somou 34%, ou seja mais do que os candidatos que passaram à segunda volta, Nelson Marchezan, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), e Sebastião Melo, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), as duas principais forças políticas que apoiam o governo de Michel Temer.

Agora, além daqueles eleitores, o candidato "Nulo" ainda pode ganhar os votos - ou não votos - dos adeptos dos dois principais concorrentes de esquerda, o do PT e o do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), que juntos chegaram a 28% na primeira volta.

"Não existe menos pior em Porto Alegre, Marchezan e Melo representam o mesmo modelo político, ambos vão beneficiar os grandes grupos empresariais e desestruturar os serviços públicos", disse a porto-alegrense Luciana Genro, candidata nas presidenciais de 2014 pelo PSOL. Nem o seu partido nem o PT declararam apoio a nenhum dos finalistas. Aliás, declararam apoio ao candidato "Nulo".

"É a velha estratégia, se tu não consegues sair do meio da lama, jogas lama em todos para dizer que todos são iguais", reclamou Marchezan, ao jornal Folha de S. Paulo. "Promover o voto nulo é negar a política e promover salvadores da pátria", acrescentou Melo.

"Nós não queremos ridicularizar os candidatos e sim criticá-los, os candidatos são semelhantes, amigos, e não nos representam, não defendemos bandeiras de partidos, agimos como cidadãos", disse ao DN Pedretti Junior, um dos autores do jingle. "Fascinado" com o sucesso da iniciativa, ele rebate as críticas de quem o acusa de estar a promover a apatia. "Muitos amigos meus discordam de mim, respeitosamente aceito as críticas, mas o voto nulo não é apatia, é protesto".

Em paralelo à campanha na internet e ao jingle, há comícios relevantes a favor do "Nulo". Há duas semanas, os participantes da manifestação envolveram-se até com as autoridades.

A crise do partido que esteve no poder federal de 2003 até Agosto deste ano, o PT, e se refletiu na perda de um terço dos prefeitos do partido nestas municipais, está na base da passagem à segunda volta de dois candidatos de direita e, portanto, do fenómeno do candidato "Nulo".

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