Ursula promete acão climática e salário mínimo em "todos os países"
Alemã indigitada para a presidência da Comissão Europeia inicia campanha junto dos eurodeputados.
Ursula von der Leyen apresentou esta quarta-feira os argumentos aos eurodeputados, numa tentativa de os convencer a garantirem-lhe uma maioria que, na próxima semana, confirme o nome da alemã para a presidência da Comissão Europeia.
Numa audição com os presidentes dos grupos parlamentares, no Parlamento Europeu, em Bruxelas, a conservadora, do Partido Popular Europeu procurou seduzir o voto dos Verdes, com promessas de "ação", para combater as alterações climáticas e piscou o olho ao voto dos socialistas, prometendo um salário mínimo "em todos os países".
Socialistas e Verdes dizem que os argumentos da conservadora alemã não convenceram e não está garantido que venha a ser eleita.
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Até agora, não se conheciam as posições de von der Leyen em matéria ambiental. Neste dia, afirmou que é preciso "agir rapidamente", sem tempo a perder, pois "está a esgotar-se". Pela primeira vez, a candidata indigitada para a presidência da Comissão Europeia apresentou compromissos em matéria ambiental.
"Ouvimos a voz das pessoas, especialmente dos jovens, eles querem ações para o futuro do nosso planeta", afirmou, na primeira vez que falou aos jornalistas desde que foi proposta como Presidente da Comissão Europeia.
"Temos de ser mais ambiciosos, porque estamos a ficar sem tempo",disse a conservadora alemã, avisando, embora sem concretizar, que "o CO2 tem que ter um preço".
O eurodeputado eleito pelo PSD Paulo Rangel identificou no discurso "uma agenda que poderia ter incorporar aqui os verdes mas não só", já que "ela mostrou uma grande abertura essencialmente para as questões ambientais".
A alemã lança o desafio aos governos nacionais para que não percam mais tempo, pois "se quisermos definir padrões globais, temos de agir rapidamente e ser mais ambiciosos, sobre os objetivos de 2030", que traçam metas para o desenvolvimento sustentável, assentes em 17 parâmetros, nos quase se enquadram, por exemplo, a agricultura sustentável, o acesso a água limpa e energia limpa e acessível e renovável para todos.
"A neutralidade climática em 2050 é uma obrigação", defendeu ainda a candidata indigitada para a a Comissão Europeia, na conferência de imprensa, acompanhada em Bruxelas pelo DN.
Verdes e socialistas descrentes
Porém, estas afirmações "não convenceram" os eurodeputados dos Verdes, disse o recém-chegado ao Parlamento Europeu, Francisco Guerreiro, eleito pelo partido Pessoas, Animais e Natureza (PAN), que se enquadra naquele grupo político, que conta agora com 74 deputados e são a quarta força parlamentar em Estrasburgo.
"Falou de mobilidade, falou de habitação. Não falou em agropecuária, portanto falou de modo muito genérico das áreas, mas não concretizou", disse o deputado do PAN, apontando ainda que não foi possível saber "se vai haver uma estratégia para a ferrovia, se vai haver diminuição da produção pecuária ou uma estratégia europeia para a preservação dos solos".
"Portanto não concretizou nada", criticou, dizendo que "foi um discurso redondo", que nem permitiu "perceber qual o roteiro que ela propõe para a descarbonização da economia".
Sobre a redução da dependência carbónica, von der Leyen disse acreditar que "é possível conciliar a consciência climática e uma economia forte e próspera", manifestando-se consciente de que "as pequenas e médias empresas são a espinha dorsal da nossa economia", sendo por essa razão necessário "acompanhá-las neste período de transição para ter uma transição justa".
"Estou ciente do facto de que nem todo país tem o mesmo ponto de partida. Por isso, é importante ter fundos como o fundo de transição energética ou o fundo de globalização, para acompanhar isso", acrescentou.
Ainda sem ter o voto garantido da bancada socialista, a eventual futura presidente da Comissão Europeia prometeu dar resposta aos anseios dos europeus, nomeadamente em termos de emprego, "como garantia estabilidade e segurança para a vida".
"Em todos os países, o trabalho deve pagar pela vida. Se alguém está a trabalhar a tempo inteiro, o emprego deve pagar pela sua vida. É por isso que vou lutar pelo salário mínimo, em todos os países", prometeu a poucos dias da votação em que pode ser confirmada como presidente da Comissão Europeia.
O socialista Carlos Zorrinho considera que as explicações de Ursula von der Leyen tocaram em alguns aspetos essenciais, mas foram insuficientes e não convenceram em outras áreas que para os socialistas são importantes.
"Os compromissos que ela assumiu ficaram aquém das exigências do grupo Socialista e Democrata", disse o deputado eleito pelo círculo de Évora, frisando que será preciso "mais compromisso", para "poder votar favoravelmente à sua candidatura".
"Assumiu algumas posições que eu gostava de realçar como positivas, em relação às alterações climáticas, por exemplo. [Fez] um discurso bastante progressista. Em relação ao estado de direito - que é para nós fundamental - em relação ao pilar social", disse.
"Mas noutras áreas, como por exemplo o apoio da Comissão ao alinhamento do programa financeiro plurianual, com a proposta do Parlamento Europeu, ou em relação à reforma da zona euro, as respostas não foram satisfatórias", lamentou Carlos Zorrinho, admitindo que "se for possível ultrapassar este diferencial obviamente que nós viabilizaremos a sua candidatura, se não for possível, não faremos".
Processo adiado?
Nesta fase, não é de excluir que a votação, prevista para a próxima terça-feira venha a ser adiada, como admite o social-democrata Paulo Rangel, para quem "dar mais tempo" para a preparação de um programa que acomode as várias sensibilidades dentro do Parlamento Europeu, é até "positivo", esperando que os partidos também possam "ceder em algumas coisas", uma vez que Ursula von der Leyen já se "compromete" em várias geometrias do ponto de vista político.
"Nas questões sociais, e até algumas questões da União Económica e Monetária, ou em alguns aspetos destas áreas mostrando a defesa de pontos de vista que não são bem os do PPE, por isso e que eu digo que todos os partidos terão aqui que ceder alguma coisa", defendeu.
"Pareceu-me que havia bastante abertura da parte de Ursula von der Leyen para assumir um compromisso global, o que eu admito é que para se poder, digamos, tornar mais concreto esse compromisso seja preciso mais tempo", admitiu Paulo Rangel.