Um bebé e os pais de um soldado. Trump terá ido longe demais?
Já tinha atacado as mulheres - várias -, chamado "violadores e traficantes" aos mexicanos - todos - e imitado um jornalista deficiente. Mas nos últimos dias, Donald Trump levou os seus ataques a um novo nível. Começou por criticar os pais de um soldados muçulmano morto no Iraque em 2004 e na terça-feira expulsou de um comício um a mãe e o seu bebé cujo choro interrompeu o seu discurso. Ignorando os conselhos da sua equipa para baixar o tom, o magnata manteve-se fiel a si próprio, impassível às críticas cada vez mais duras dos responsáveis do seu próprio partido.
"Há grande união em torno da minha campanha, talvez maior até do que antes. Quero agradecer a todos pelo vosso apoio tremendo. Vamos derrotar a Hillary Corrupta", escrevia Trump ontem no Twitter. A confiança do candidato contrasta com as críticas de que foi alvo nos últimos dias, com vários republicanos a distanciarem-se dos seus ataques aos Khan. Foi o caso dos líderes republicanos no Senado e Câmara dos Representantes, Mitch McConnell e Paul Ryan, que saudaram o capitão Humayun Khan como "herói americano". Também o senador John McCain, candidato às presidenciais de 2008 e veterano do Vietname, sublinhou que as palavras de Trump "não representam o Partido Republicano". Mas nenhum deles foi ao ponto de retirar o apoio ao candidato. Já Trump, recusou apoiar Ryan e McCain, que também vão a votos a 8 de novembro.
Mais radical foi o congressista republicano Richard Hanna que na terça-feira anunciou que vai votar na democrata Hillary Clinton por considerar que Trump "não serve para liderar este país". Um opinião que a CEO da Hewlett Packard. Meg Whitman, tradicional financiadora do Partido Republicano, garantiu no Twitter que a "demagogia" de Trump está a prejudicar a América e recusou apoiar um candidato que "explora a ira, a xenofobia e as divisões raciais". Às vozes críticas juntou-se ainda Jan Halper-Hayes, a presidente dos Republicanos no Estrangeiro, que se disse "muito preocupada" com o comportamento de Trump que acredita estar "psicologicamente perturbado".
Na terça-feira, Barack Obama deixara um apelo aos líderes republicanos para que digam "basta!" a ter Trump como candidato. O presidente garantiu ainda que o magnata "não é qualificado para servir como presidente". A resposta de Trump surgiu via Twitter: "Obama vai ficar para a História como o pior presidente dos EUA".
À procura de um substituto
Perante uma semana cheia de polémicas e trocas de acusações envolvendo o seu candidato, a ABC News garantia ontem que os responsáveis do Partido Republicano estarão já à procura de um substituto para o caso de o milionário desistir da corrida às presidenciais. Mas não só Trump não manifestou até agora qualquer desejo de deixar de ser o candidato do partido - e teria de ser ele a pedir para sair do ticket republicano -, como o próprio processo de o substituir seria longo e complicado.
Em primeiro lugar, portanto, Trump teria de pedir para sair do ticket, depois caberia aos 168 membros do Comité Nacional Republicano escolher o seu sucessor, num processo complexo. Além disso, para dar tempo ao partido de escolher o novo candidato e inscrever o seu nome nos boletins de votos de todos os 50 estados, o processo teria de começar já em setembro.
Depois de Trump expulsar uma mãe e o seu bebé do seu comício, multiplicaram-se os artigos nos jornais americanos a questionar se este será o "início do fim" para o sonho do milionário de chegar à Casa Branca. No Washington Post, o jornalista Dana Milbank lembrava que "durante toda a campanha, Trump agiu sob o pressuposto que toda a publicidade é boa publicidade [...] E durante muito tempo funcionou". Mas, sublinhava Milbank, agora "parece que os republicanos, conservadores e até alguns apoiantes de Trump se cansaram dos seus ataques contra a democracia e a decência".
Realizada entre 28 de julho e 1 de agosto, a última sondagem Reuters/Ipsos já revela a reação dos eleitores à polémica de Trump com os Khan e dá o republicano oito pontos atrás de Hillary - 35% contra 43% das intenções de voto.
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