Casa Branca tentou "ocultar chamada de Trump a presidente ucraniano", diz denunciante

Comissão dos Serviços Secretos da Câmara dos Representantes divulgou a versão da declaração do denunciante que acusou o presidente dos EUA de solicitar ajuda do presidente da Ucrânia para interferir nas presidenciais de 2020.

"No decorrer dos meus deveres oficiais recebi informações de várias fontes no Governo dos EUA de que o presidente dos EUA está a usar o seu poder no cargo para solicitar interferência de um país estrangeiro nas eleições de 2020", pode ler-se na declaração do denunciante que acusou Donald Trump de pedir ajuda ao presidente ucraniano, Vlodymyr Zelensky, numa chamada feita em julho, para investigar as ligações a uma empresa da Ucrânia de Hunter Biden, filho de Joe Biden, um dos favoritos à nomeação democrata para as presidenciais do próximo ano.

A declaração do whistleblower foi agora divulgada pela Comissão dos Serviços Secretos da Câmara dos Representantes, que na terça-feira deu o primeiro passo para iniciar um processo de destituição contra Trump.

O presidente reagiu de imediato no Twitter: "OS DEMOCRATAS ESTÃO A TENTAR DESTRUIR O PARTIDO REPUBLICANO E TUDO AQUILO QUE ESTE DEFENDE. FIQUEM UNIDOS E LUTEM COM FORÇA REPUBLICANOS. O NOSSO PAÍS ESTÁ EM JOGO!"

O relato do denunciante foi divulgado pouco antes do início da audiência pela mesmo Comissão do diretor dos Serviços Secretos americanos, John Maguire, depois de este ter, durante semanas, recusado divulgar o documento.

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Neste relato, o denunciante garante que o advogado de Trump, Rudy Giuliani, é"uma figura central" no esforço para pedir a interferência da Ucrânia nas presidenciais e garante que o procurador-geral, William Barr, também está envolvido.

O whistleblower garante ainda que o telefonema entre Trump e Zelensky, a 25 de julho, e cujo conteúdo foi entretanto divulgado pela Casa Branca, deixou vários responsáveis da Administração "perturbados com o que veio cá para fora". Segundo ele, os advogados da Casa Branca já estavam a discutir "a melhor forma de tratar a chamada devido à probabilidade de, segundo os seus relatos, terem testemunhado o presidente a abusar do seu poder para ganhos pessoais".

Talvez por isso, prossegue, nos dias seguintes, altos responsáveis da Casa Branca tenham tentado "ocultar todos os registos da chamada telefónica, especialmente a transcrição palavra a palavra da chamada" Um comportamento que, segundo ele, "revela como os altos responsáveis da Casa Branca perceberam a gravidade do que tinham sido revelado" da chamada.

"Responsáveis da Casa Branca disseram-me terem sido 'instruídos' pelos advogados para remover os registos eletrónicos [da chamada]"

"Responsáveis da Casa Branca disseram-me terem sido 'instruídos' pelos advogados para remover os registos eletrónicos [da chamada] do sistema onde habitualmente são guardados para coordenação, finalização e distribuição dos responsáveis a nível ministerial", pode ler-se no relato.

O denunciante garante ainda que Trump deu instruções ao vice-presidente Mike Pence para cancelar uma visita à Ucrânia em maio para assistir à tomada de posse de Zelensky, tendo antes enviado o secretário da Energia, Rick Perry. E terá adiado um encontro com o homólogo ucraniano até perceber como é que ele agia depois de chegar ao poder.

O longo caminho para o impeachment

A maioria Democrata na Câmara de Representantes anunciou terça-feira um inquérito para destituir Donald Trump, por abuso de poder presidencial, ao pressionar um líder estrangeiro a investigar um adversário político.

Mas o anúncio do inquérito no Congresso é apenas um primeiro passo de um longo processo que precisa de aprovação na Câmara dos Representantes (de maioria Democrata) e no Senado (de maioria Republicana), antes de levar à destituição de Donald Trump, que se tem defendido de não ter cometido qualquer ilegalidade e considera que esta investigação é apenas uma "caça às bruxas", para prejudicar politicamente a sua recandidatura.

A Constituição norte-americana diz expressamente que o Congresso pode remover um Presidente se considerar que este cometeu "traição, suborno ou outros crimes e delitos graves".

A expressão "crimes e delitos graves" diz respeito a abuso de poder no exercício do cargo, o que os parlamentares Democratas dizem poder ter ocorrido no caso do telefonema de Donald Trump ao Presidente da Ucrânia, levando ao processo de 'impeachment'.

A presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, anunciou que pediu às seis comissões da Câmara para procederem a investigações para o processo de destituição do Presidente, que poderão levar à redação de artigos de 'impeachment'. De seguida, cada um desses artigos de 'impeachment' terá de ser discutido na Câmara de Representantes.

Se qualquer um desses artigos for votado maioritariamente na Câmara, o Presidente terá sido destituído, o que não significa que seja removido do seu cargo.

Com uma maioria Democrata na Câmara de Representantes, este cenário é provável.

Contudo, para que o Presidente seja removido do cargo, o Senado iniciará um julgamento em que cada artigo será discutido e votado, condenando ou ilibando o Presidente, que apenas poderá ser removido do cargo se 2/3 dos senadores o considerarem culpado.

Nesse julgamento, uma equipa de advogados da Câmara de Representantes, referidos como "managers", servem de procuradores de acusação contra os advogados de defesa escolhidos pelo Presidente, com os senadores a servir de juízes.

Com uma maioria Republicana no Senado, é muito pouco provável que haja sequer uma maioria simples para condenar Donald Trump, sobretudo depois de os mais influentes senadores terem acusado a oposição Democrata de usar este caso como estratégia política para prejudicar a reeleição do Presidente, em 2020.

Apenas três presidentes dos EUA foram alvo de processos de impeachment. Andrew Johnson em 1868, por ter demitido o secretário de Guerra em violação da lei, mas o Senado ficou a um voto de o poder remover da Casa Branca. Bill Clinton em 1999, depois de a Câmara de Representantes ter aprovado dois artigos contra ele, no caso envolvendo a estagiária Mónica Lewinsky, mas o Senado não votou favoravelmente nenhum deles. Já Richard Nixon esteve à beira de ser destituído, quando foi envolvido no escândalo Watergate, depois de a Câmara de Representantes ter aprovado três artigos de 'impeachment', mas demitiu-se, em 1974, antes de uma votação global que conduzisse à sua destituição, que não chegou sequer ao Senado.

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