Trump traz mais incerteza na relação com Portugal
Uma eventual vitória do republicano Donald Trump nas eleições norte-americanas representa "uma maior incerteza" e, nesse sentido, "podemos acordar mais desconfortáveis" na quarta-feira. Contudo, independentemente de quem for eleito, "não são expectáveis muitas mudanças nas relações com os EUA", até porque o presidente não decide sozinho, segundo vários responsáveis ouvidos pelo DN.
"As relações entre Portugal e EUA são sólidas e não é a mudança de presidente que vai alterar isso", disse a secretária-geral da Câmara de Comércio Americana em Portugal, Graça Didier, não prevendo grandes alterações a nível económico quer ganhe o republicano quer a democrata Hillary Clinton. "É evidente que há propostas diferentes de um candidato e de outro, com Trump a defender uma posição mais fechada ao exterior, em que o livre comércio é questionado. Hillary tem uma visão mais aberta das relações económicas e globais", explicou, lembrando que "em todos os países, o discurso pré-eleições é muito inflamado e o discurso pós-eleições cola-se mais à realidade e às necessidades reais e da economia".
Ainda assim, Graça Didier admite que "haverá eventualmente mais incerteza com uma vitória de Trump do que com Hillary", porque a posição da democrata tem sido mais sólida. "Com Trump não tem havido tanta clareza, tem havido até contradições. Ele é um ponto de interrogação maior e, nesse sentido, poderemos acordar um pouco mais desconfortáveis", explicou.
Essa mesma sensação é expressa pela diretora executiva da Fulbright em Portugal, Otília Reis. "Com Trump há uma certa incerteza e a incerteza pode ser assustadora", refere. "É difícil prever o que vai acontecer com uma nova administração. Será que vamos ter uma mudança na continuidade ou uma mudança completa que não sabemos muito bem o que será em termos de política externa?", questiona, acreditando contudo que a eleição não deve ter "resultados diretos expectáveis" ao nível do programa de intercâmbio educacional que lidera.
Mas o novo presidente pode mudar a forma como o mundo olha para os EUA. "Nunca tivemos um sentimento antiamericano em Portugal, vamos ver se isso muda", refere Otília Reis, lembrando que "o contacto próximo" entre portugueses e norte-americanos "é sempre mais importante do que quem está na Casa Branca".
Por outro lado, por muito que "o carácter e a personalidade" dos candidatos seja importante, ambas as responsáveis referem que um presidente não atua sozinho. "Não é o presidente que faz tudo. Vimos isso com Obama, em que algumas das suas bandeiras não foram possíveis de levar para a frente, ou pelo menos na forma como ele pretendia, porque depois o Senado não as deixava passar", refere Graça Didier.
Quanto às relações económicas com Portugal, a secretária-geral diz que tem havido uma melhoria das exportações. "Durante muito tempo, os EUA foram o quinto mercado das nossas exportações, o primeiro fora da Europa, sendo depois ultrapassados por Angola. Mas recuperou em 2015", explicou, dizendo que a desvalorização do euro face ao dólar, tornou os produtos portugueses mais acessíveis no mercado americano. Sobre as negociações do acordo de livre comércio entre EUA e União Europeia, Graça Didier recorda que não depende só do que se passa do outro lado do Atlântico. "Do lado europeu também há passos que têm de ser dados, há países mais relutantes ao acordo, por isso há muito trabalho a ser feito."
Base das Lajes
Um dos elos de ligação entre Portugal e os EUA é a base das Lajes, na ilha Terceira, nos Açores. "O governo português tem de estar atento e preparado para saber quais as intenções do novo presidente dos EUA em relação à importância da base", disse o presidente da Junta de Freguesia da Vila das Lajes e deputado regional eleito pelo PSD, César Leandro da Costa Toste. "Penso que se a base não fosse importante, os americanos já a tinham fechado como fizeram noutros lados", diz.
[artigo:5264208]
Quanto às presidenciais diz que é preciso esperar. "As posições tanto de Trump como de Hillary são divergentes. Clinton é mais conservadora na linha de Obama, enquanto Trump tem avançado com propostas, até a nível de imigração, que deixam alguma preocupação", referiu, lembrando contudo que "qualquer decisão em relação às Lajes não depende só do presidente, mas também das pessoas que o vão rodear".