Trump escreve a Pelosi e compara impeachment a julgamento das bruxas de Salem
É uma carta de seis páginas dirigida à presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, a democrata Nancy Pelosi, no dia em que será decidido o impeachment de Donald Trump naquela câmara do Congresso. Na missiva, o presidente norte-americano acusa Pelosi de declarar "guerra aberta à democracia americana" e de diminuir a "importância da palavra muito feia, impeachment!", escreve Trump.
Não há grande margem para evitar que a destituição siga em frente, escreve a BBC, por isso Trump usou esta forma - uma carta - para tentar denegrir o processo e denunciar Pelosi. Antes, já tinha resistido ao impeachment, ao impedir que os seus principais assessores testemunhassem perante a Câmara dos Representantes.
Na missiva enviada a Pelosi, Trump manteve que não fez nada de errado ao procurar que um país estrangeiro investigasse um rival político, num telefonema para o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky no qual pede para este investigar os negócios no seu país de Hunter Biden, filho de Joe Biden, um dos candidatos à nomeação democrata para as presidenciais de novembro de 2020. Trump escreveu ainda que não acredita que a carta mude alguma coisa, mas que registou as suas objeções "para efeitos históricos".
Além de acusar Pelosi, Trump diz ainda ter sido "privado do devido processo constitucional básico desde o início desse golpe de impeachment" e escreve também terem-lhe sido negados "os direitos mais fundamentais concedidos pela Constituição, incluindo o direito de apresentar provas". E compara o seu processo ao julgamento das bruxas de Salem, às quais diz terem sido dadas mais oportunidades de defesa.
No entanto, o que Donald Trump alega não é bem assim: foi convidado publicamente a depor no processo de impeachment, o que também teria permitido aos seus advogados interrogar as testemunhas, um convite que o presidente dos EUA declinou.
A presidente da câmara de Salem, Kim Driscoll, reagiu, no Twitter, à comparação usada por Trump, escrevendo que o presidente deveria "aprender um pouco de história", uma vez que as condenações no julgamento das alegadas bruxas foi realizado sem qualquer prova, enquanto que o processo contra Donald Trump envolve "amplas provas".
De acordo com a agência Lusa, Pelosi disse aos jornalistas que não tinha lido a carta na íntegra, mas que percebera "a essência" da missiva e que pensava que Trump estava "realmente doente".
Em finais do século XVII, duas centenas de pessoas acusadas de bruxaria foram julgadas em Salem, no Massachusetts ainda sob domínio britânico. Após uma série de audiências, 30 foram consideradas culpadas e 19 foram executadas por enforcamento - 14 mulheres e cinco homens. Foi a caça às bruxas mais mortífera da História da América colonial.
A Câmara dos Representantes vota esta quarta-feira os dois artigos de acusação contra o presidente dos EUA, com vista ao seu julgamento para a destituição no Senado, o que o pode tornar o terceiro presidente a ser julgado com vista a este resultado.
"A Câmara dos Representantes vai exercer um dos poderes mais solenes que lhe são atribuídos pela Constituição, quando nos reunirmos para aprovar os dois artigos de acusação ao presidente", escreveu Pelosi, na terça-feira, aos eleitos democratas.
Os dois artigos acusam Trump de abuso de poder e obstrução ao Congresso.
O presidente "traiu a nação ao abusar do seu poder para recrutar um poder estrangeiro e corromper eleições democráticas", afirmou-se no relatório, de 650 páginas, produzido pela comissão de Justiça da Câmara.
Trump suspendeu a ajuda militar a um país aliado (Ucrânia) como forma de pressão, adiantando-se ainda no texto, que "Trump, com esta conduta, demonstrou que continuaria a ser uma ameaça à segurança nacional e à Constituição se for autorizado a permanecer no cargo".
No documento acrescentou-se que o Presidente se envolveu depois em tentativas inéditas de bloquear a investigação e "cobrir" as suas más práticas.
A agência noticiosa Associated Press fez o levantamento das intenções de voto entre os congressistas em causa e concluiu que a maioria deve votar a favor da acusação a Trump.
Trump tem criticado violentamente as acusações com vista à sua destituição e acusado os democratas de "perversão de justiça e abuso de poder" para o remover da Casa Branca.
Se os artigos forem aprovados na Câmara, de maioria democrata, o processo passa para o Senado, de maioria republicana, que, pela Constituição, tem de julgar o presidente com base nas acusações aprovadas.
O julgamento deve começar em janeiro. O líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, pretende um julgamento rápido para fechar o caso.
"Durante esse momento de oração na história de nossa nação, devemos honrar o nosso juramento de apoiar e defender a nossa constituição de todos os inimigos, estrangeiros e domésticos", acrescentou Pelosi no comunicado que anuncia a votação.
Na noite de terça-feira, aconteceram vários protestos nos EUA em apoio ao impeachment - em cidades como em Nova Iorque, Boston e Los Angeles. Os manifestantes carregavam cartazes conde se liam frases como "Dump Trump" e "Protect our Democracy". As hashtags #notabovethelaw e #impeachmentEve são uma tendência no Twitter.