Três coisas que separam Merkel e Trump - e o que os une
Há alguma coisa que una a chanceler alemã e o presidente americano eleito? Apesar das diferenças flagrantes, a resposta é positiva
Vida pessoal nos antípodas
MERKEL: Mantendo esta parte da sua vida fortemente reservada, Angela Merkel é conhecida por não gostar de cães. Teve um primeiro casamento de apenas cinco anos com um estudante de Física (Ulrich Merkel, de quem assimilou o apelido), de quem se divorciou em 1982. Casou-se discretamente pela segunda vez, agora com um professor de Química Quântica, em 1998. Não tem filhos.
TRUMP: Todos os seus relacionamentos fizeram capas de revistas e tabloides, em particular os casamentos e divórcios milionários. Casou-se pela primeira vez com Ivana, em 1977, de quem teve três filhos (Donald Jr., Ivanka e Eric) e de cujo divórcio custou 23 milhões de euros. Da segunda união, com a modelo Marla Maples, que aconteceu 16 anos depois e durou apenas seis anos, nasceu Tiffany. É desde 2005 casado com a modelo eslovena Melania - uma cerimónia que custou 3,5 milhões de euros, incluindo um vestido de noiva Dior de 100 mil euros, com entrada direta para o ranking dos dez casamentos mais caros de sempre -, de quem tem um filho, Barron. Diz-se "cristão presbiteriano e protestante", liderou o reality show The Apprentice e apostou o próprio cabelo num combate de wrestling contra o dono da WWE, Vince McMahon.
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Ascensão política e poder
MERKEL: Tendo crescido num contexto e ambiente familiar fortemente politizados, apesar de se ter formado em Física, falar russo fluentemente e ter sido distinguida pela sua proficiência em russo e matemática, Merkel não demorou muito tempo a começar uma carreira política - primeiro projetada por Helmut Khol, depois a solo, uma vez denunciado e confrontado o seu mentor, acusado de desviar fundos de donativos. Em cinco anos (2005), tornava-se ela própria líder da CDU e chanceler alemã (a primeira mulher a ocupar o cargo) - posição que mantém ainda, 12 anos depois. É considerada pela revista Forbes a segunda pessoa mais poderosa do mundo.
TRUMP: Nascido em Queens, Nova Iorque, construiu a sua fortuna (avaliada em 10 mil milhões de euros) a partir do que herdou do pai - fortuna e veia para os negócios. O seu primeiro grande projeto foi o Hotel Commodore, em Nova Iorque, mais tarde rebatizado de Grand Hyatt. Os investimentos em construção e imobiliário foram o caminho para a criação da marca Trump, da qual recebe royalties milionários. Não fez carreira política até se candidatar à presidência dos Estados Unidos, em 2015, tendo mesmo nessa altura e durante toda a campanha enfrentado não só a oposição democrata como grande parte dos republicanos - à exceção da ala ultraconservadora.
Em polos opostos quanto aos refugiados
MERKEL: Em 2015, a Alemanha recebeu mais de um milhão de migrantes no seu território, sendo de longe o país europeu com maior número de chegadas. Figura do ano para a revista Time, Merkel decidiu abrir as portas aos refugiados que chegam à UE fugidos da Síria ou do Iraque, considerando que a Alemanha tem o dever de ajudar os povos que são perseguidos. A sua posição, porém, tem evoluído: Merkel tem insistido que os migrantes são até uma oportunidade para um país com uma crise demográfica no horizonte, mas já afirma que entradas irregulares não podem ser aceites no espaço europeu - razão pela qual defende o acordo assinado entre União Europeia e Turquia para a devolução dos imigrantes ilegais - e que é preciso melhorar a integração e acelerar as expulsões daqueles que não têm direito de ficar na Alemanha.
TRUMP: Construir um muro para manter os mexicanos fora dos Estados Unidos - e fazê-los pagá-lo - foi uma das frases que marcaram a campanha de Trump. Acusado de racismo, xenofobia, machismo, atacando mexicanos, muçulmanos e chineses, além de querer fechar as portas dos EUA à imigração, nos últimos tempos tem criticado a política de portas abertas da União Europeia, que diz ser errada e potenciadora de novos brexits.
Origens na Alemanha
MERKEL: Nascida em Hamburgo, numa família luterana da RDA (o pai era pastor), Angela Merkel teve uma infância marcada pela Guerra Fria e pela necessidade de discrição face à polícia secreta alemã (potenciada pelos encontros políticos que o pai, socialista, organizava na sua igreja). Desligada da sua aparência, usava o cabelo curto, camisas largas e tinha o aspeto austero de quem crescera sob o comunismo, mas foi pelo Partido Democrata Cristão - predominantemente masculino e patriarcal - que optou na hora de se filiar.
TRUMP: Há uma casa modesta de janelas pequenas e fachada branca numa pequena vila alemã chamada Kallstad que tem uma história para contar. Mas não tem nada que ver com a chanceler alemã. Na verdade, foi aqui que viveu o avô de Donald Trump antes de seguir para os Estados Unidos, em 1885, e fundar o império imobiliário da família.