"Tratámos a UE com respeito e exigimos o mesmo dela". O desafio de Theresa May aos 27
"Não vou inverter o resultado do referendo nem deixar o meu país entrar em rutura", garantiu Theresa May, num discurso em tom desafiador. A primeira-ministra britânica reagiu esta sexta-feira depois de no último Conselho Europeu, em Salzburgo, na Áustria, os líderes dos restantes 27 países da UE terem rejeitado o seu plano para o brexit.
A saída do Reino Unido da UE está marcada para 29 de março de 2019.
Para Theresa May, uma coisa é certa: "nós tratámos a UE com respeito e exigimos o mesmo dela". A chefe do governo britânica não escondeu que não gostou da forma como foi tratada em Salzburgo e sublinhou que "uma boa relação no final deste processo vai depender" desse respeito. "Neste momento das negociações, não é simplesmente aceitável rejeitar a proposta do outro lado sem uma explicação detalhada e uma contraproposta".
Para ela, o único plano possível é o que ela propõe e que prevê que o Reino Unido e a UE mantenham "regras comuns" no que diz respeito aos bens, mas não em relação aos serviços. Segundo Londres, esta é a única forma de evitar uma fronteira rígida (hard border) entre a Irlanda e a Irlanda do Norte.
Esta solução parece, no entanto, não ser unânime sequer entre os membros do seu Partido Conservador, com os mais radicais a garantirem que o plano de May põe em causa a própria soberania do Reino Unido.
O plano de Theresa May, conhecido como Chequers Plan (deve o nome à casa de campo do chefe do governo britânico), teve, no mínimo, uma receção fria em Salzburgo.
Mesmo se, em conferência de imprensa, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, admitiu que a proposta de May tem "elementos positivos".
Os 27 chegaram à conclusão que o plano britânico precisa de ser ajustado - "O quadro legal proposto para a cooperação económica não vai funcionar, até porque iria prejudicar o mercado único".
Na sua conta de Instagram, Tusk publicou uma foto sua com May e com a legenda: "Um pedaço de bolo, talvez? Peço desculpa, não tem a cereja em cima".
A União Europeia tem sublinhado que o Reino Unido não pode simplesmente escolher manter as regras que mais lhe agradam, sem ter as obrigações - ou cherry-picking, em inglês (escolher a cereja, literalmente).
Londres e Bruxelas esperam chegar a acordo na próxima cimeira, em outubro em Bruxelas, sobre a saída do Reino Unido da UE e sobre o quadro da futura relação, em particular em termos económicos.
Se até lá as negociações não avançarem, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, que se reuniu hoje a sós com May, admite convocar uma cimeira extraordinária para 17 e 18 de novembro.
Logo depois do Conselho Europeu em Salzburgo, May voltou a afastar a possibilidade de um segundo referendo. "Não haverá um segundo referendo [...] O povo votou", afirmou, reiterando que o Reino Unido vai sair da UE a 29 de março de 2019. A primeira-ministra garantiu ainda que a sua proposta de acordo é "a única séria e credível".
Hoje May explicou que "sempre disse que as negociações iam ser duras [...] E se ambos os lados querem um acordo, temos de reconhecer que - apesar dos progressos que já fizemos - há duas grandes questões que nos continuam a afastar".