Tillerson no Golfo procura soluções para crise do Qatar

Secretário de Estado americano fica até quinta-feira na região. Fonte americana mostrava-se cética sobre resultados da viagem.
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O secretário de Estado Rex Tillerson chegou ontem à região do Golfo, onde irá permanecer até quinta-feira numa tentativa de superar o impasse na crise surgida entre o Qatar e uma coligação de cinco Estados que cortaram relações com o emirado e impuseram sanções ao governo de Doha no início de junho.

Rex Tillerson manterá contactos no Koweit, que tem procurado mediar a crise a nível regional, Qatar e Arábia Saudita, que (com Bahrein, Egito, Emirados Árabes Unidos e Iémen) apresentou uma lista de 13 exigências, entre as quais o encerramento da televisão Al-Jazeera e de uma base militar turca no emirado, como condição indispensável para o restabelecimento das relações.

Riade e os restantes governos signatários do ultimato acusam ainda Doha de cultivar uma relação estreita com o Irão, de apoiar grupos terroristas e interferir nas questões de política interna dos cinco países. Significativamente, Tillerson chega ao Golfo proveniente da Turquia, país que se colocou inequivocamente ao lado do governo de Doha, onde manteve várias reuniões, entre as quais uma com o presidente Recep Tayyip Erdogan. Ancara não só reforçou os efetivos na base no emirado como enviou uma presença naval para a região, mas principalmente intensificou o envio de produtos de primeira necessidade para suprir a falta destes no Qatar em resultado das sanções. Tal como o está a fazer o Irão, país com o qual os cinco Estados querem que Doha reduza ao mínimo o nível de relações e que acusam de manipular as minorias xiitas em alguns deles para desestabilizar os respetivos governos. Riade martela desde há anos que Teerão não tem nada que se imiscuir nas questões dos países árabes.

Até agora, as tentativas de desbloquear a crise não produziram quaisquer resultados como reconhecia ontem R.C. Hammond, um porta-voz de Tillerson, citado pela Reuters. A viagem "tem que ver com a arte do possível" e não vale a pena "falar das sanções" mas, "individualmente, há algumas coisas que poderão funcionar". Até agora, "houve uma ronda de negociações, mas não se avançou nada", admitiu Hammond. Das declarações deste depreende-se que a crise não tem fim à vista e que novas sanções poderão ser aplicadas ao Qatar, mas uma escalada a culminar em algum tipo de conflito militar parece excluída. Citada ontem pela Bloomberg, fonte do Departamento de Defesa dizia não haver qualquer indício a apontar nesse sentido.

O governador do banco central qatari desvalorizou ontem o impacto das sanções, garantindo que o emirado tem condições para vencer "qualquer choque".

A posição dos EUA é delicada nesta crise. A Arábia Saudita é o principal aliado de Washington na região, apesar de momentos de tensão com anteriores administrações na Casa Branca, tendo sido concluído, durante a recente visita do presidente Donald Trump, mais um acordo gigantesco de venda de armas a Riade. Por outro lado, a maior base dos EUA na região do Golfo, a base aérea de Udeid, está situada no Qatar. Uma terceira vertente a ter presente é que o reforço dos laços entre Doha e Teerão não deixará de ter reflexos nos equilíbrios regionais e no modo como poderão evoluir as relações entre o emirado e os EUA.

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