Theresa May dança ao som de ABBA mas dramatiza discurso sobre o brexit
A primeira-ministra britânica Theresa May defendeu o seu plano para o brexit, mas alertou que prefere sair da UE sem um acordo do que aceitar a divisão do Reino Unido.
Foi ao som de Dancing Queen, dos ABBA, que a governante entrou em palco. Deu um pezinho de dança e foi aplaudida de pé.
A entrada da chefe do governo e dos tories foi um toque de humor em resposta às críticas que recebeu pelos seus movimentos corporais na sua recente viagem a África e um contraste com o discurso pleno de incidentes que proferiu no ano passado.
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Theresa May afirmou estar confiante de que conseguiria fechar um acordo com a UE e afastou a possibilidade de um segundo referendo, que seria o "voto dos políticos" e não o "voto do povo", termo usado por alguns setores do partido trabalhista para devolver a decisão aos eleitores.
"O Reino Unido não tem medo de sair sem acordo se for necessário", disse May. "Mas precisamos ser honestos sobre isso. Sair sem um acordo, introduzir tarifas e dispendiosas vistorias na fronteira seria um mau desfecho para o Reino Unido e para a UE".
No congresso anual do partido conservador, Theresa May fez um discurso em que apelou para a união. "Se cada um de nós seguir em diferentes direções à procura de uma visão particular para o brexit perfeito, corremos o risco de acabarmos sem brexit", advertiu.
Mas esse não foi o único motivo apontado: "Estamos a entrar na fase mais dura das negociações. O que propomos é um grande desafio para a União Europeia. Mas se nos mantivermos unidos e com temperança eu sei que vamos obter um acordo positivo para o Reino Unido."
Mas Theresa May quis também deixar uma nota de esperança ao afirmar que o país, cuja "maior riqueza é o talento", vai liderar mundialmente o comércio livre.
"Acredito apaixonadamente que os nossos melhores dias estão à nossa frente e que o nosso futuro é cheio de esperança", declarou.
Fim da austeridade à vista
O discurso não se ficou pela saída da União Europeia. Theresa May disse que, após uma década de austeridade, o fim do ciclo está à vista e que as despesas públicas vão subir, mas não detalhou quando nem como.
"Não somos apenas um partido para limpar a confusão, somos um partido que aponta o caminho para um futuro melhor", disse."Uma década depois do crash financeiro, as pessoas precisam saber que a austeridade acabou e que o trabalho árduo valeu a pena."
Reafirmou a importância do saneamento financeiro e, como tal, os níveis de endividamento não podem voltar aos do passado. "Não pode haver um regresso aos empréstimos descontrolados do passado", sentenciou.

Theresa May encontrou em Jeremy Corbyn um inimigo comum dos conservadores
© EPA/Neil Hall
Aproveitou a oportunidade para criticar os trabalhistas, que acusou de não terem o país preparado para uma crise como a que ocorreu em 2008.
Aliás, May preferiu centrar as críticas no Labour e no seu líder, Jeremy Corbyn, do que em responder à oposição interna, em especial a Boris Johnson e ao discurso do dia anterior.
O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros repetiu a ideia de que o plano de May (conhecido como Chequers, por ter sido apresentado na casa de campo da primeira-ministra) é para pôr de lado. "Abandonem Chequers", instou.
Sobre o partido da oposição, May disse que os planos de Jeremy Corbyn em voltar a nacionalizar serviços como os correios ou o transporte ferroviário iria ter como consequências um aumento de impostos e a fuga de empresas.
Partido Jeremy Corbyn, partido do Kremlin
O tom da crítica subiu quando falou de Jeremy Corbyn. Afirmou que todos governos trabalhistas deixaram o país sem dinheiro e com a economia virada do avesso, mas que eram governos orgulhosos do seu país, das suas instituições e das forças armadas, mas que o "partido Jeremy Corbyn", que tomou o Labour, não partilha esses "valores comuns".
A esse propósito revelou que uma das decisões mais difíceis que tomou foi a da expulsão dos diplomatas russos na sequência do caso Skripal (o envenenamento do ex-espião russo e da sua filha em Salisbury). E que a única voz dissonante foi a do líder dos trabalhistas. "Corbyn crê que a NATO provoca a Rússia, em vez de compreender que aquela protege o Ocidente", continuou, para concluir: "Não podemos deixar a nossa consciência ao cuidado do Kremlin."