Soraya e Susana: os planos B no feminino de PP e PSOE

São as duas mulheres com mais poder partidário em Espanha. Conhecem-se, mas apenas circunstancialmente.
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Soraya Sáenz Santamaría: A mulher mais influente da democracia espanhola

Há quatro anos, Mariano Rajoy converteu Soraya Sáenz de Santamaría em vice-primeira-ministra, porta-voz do governo e ministra da Presidência. A menina de Rajoy, como tantas vezes é chamada, tornou-se assim a pessoa de máxima confiança do recém-eleito primeiro-ministro e a mulher mais poderosa da democracia. Talvez por isso o seu nome se imponha quando falamos dos substitutos de Rajoy. E agora ainda mais quando um dos cenários políticos possíveis em Espanha é novas eleições. Será Soraya a candidata do PP, ou vai manter-se Rajoy?

Soraya é um dos grandes apoios de Mariano Rajoy dentro do governo e é conhecida a admiração que sente pelo chefe. A sua chegada à política foi um acaso. Nascida em Valladolid (1971), trabalhava como advogada do Estado em León quando enviou o currículo a Paco Villar, então chefe de gabinete de Rajoy durante a sua etapa como ministro das Administrações Públicas. Com um brilhante percurso académico, Villar gostou dela durante a entrevista e teve a intuição de que seria a pessoa que procuravam. "Assusta-a resolver confusões o tempo todo?", perguntou-lhe. "Não, em absoluto", respondeu ela. Soraya tinha 29 anos e foi contratada para fazer parte da equipa ministerial. Não era do PP nem tinha trajetória política, mas a sua eficácia e discrição chamaram a atenção do chefe, como ela gosta de chamar ao primeiro-ministro. Entre as suas qualidades está uma muito importante: preparar muito bem os documentos de Rajoy. Aos poucos começou a desviar o caminho profissional para a política e ultrapassou a linha que separa os assessores dos colaboradores de confiança.

O desafio do Prestige

Ganhou o respeito do então ministro durante a catástrofe do petroleiro Prestige pela sua capacidade de trabalho e de reação numa das piores crises de governo. Durante os anos de Rajoy como líder da oposição (2004--2011), Soraya começou a ascender, perante o receio de muitos no partido. Inscreveu-se como militante do PP em 2004 e chegou a deputada depois da saída do Parlamento de Rodrigo Rato, que renunciou ao lugar para ir para o FMI. Soraya era o número 18 na lista de Madrid nas eleições de 2004 e ficou como primeira suplente depois dos maus resultados eleitorais. "Rajoy disse-me que para triunfar na política devia ter sentido de Estado, sentido comum e espírito desportivo", afirma Soraya. Com muito trabalho e preparação, soube bem como exercer o seu poder. Na segunda legislatura de Zapatero foi nomeada porta-voz do grupo parlamentar do PP como principal força da oposição. "Todos têm direito a uma oportunidade", disse Rajoy no dia em que a nomeou sob o olhar cético dos veteranos.

Soraya não representa o perfil mais conservador do PP, pelo contrário, dizem que é "muito moderna". Casou-se pelo civil no Brasil e o marido é português, também advogado. Iván Rosa Vallejo trabalha desde 2012 para a Telefónica como assessor jurídico na divisão internacional. O filho, de 4 anos, tem o nome do pai. Soraya é uma mulher simpática e faladora que gosta de debater. De baixa estatura, é hiperativa e hipertrabalhadora. Obcecada com a pontualidade, exige muito a quem trabalha à sua volta. Gosta de ler, de cinema e de ver desporto na televisão. Mora em Fuente del Berro, um bairro de classe alta da capital espanhola, numa vivenda com jardim e piscina.

Um dos assuntos mais espinhosos da passada legislatura foram as novas licenças de televisão. Soraya foi quem esteve à frente das negociações com os grupos de comunicação até junho, quando Rajoy a afastou para evitar problemas internos no partido. Soraya é amiga de Juan Luis Cebrián, presidente do Grupo Prisa, e todas as fontes do setor afirmam que foi ela quem evitou a sua queda. Deixou passar a suposta absorção ilegal de La Sexta por Atresmedia (Antena 3) e o resultado foi um duopólio Mediaset e Atresmedia hostil ao PP. Para muitos, Soraya aceitou estes movimentos em troca de uma "não-agressão" à sua pessoa.

Nos últimos quatro anos, Soraya provou ser uma mulher com personalidade, capaz de resolver muitas confusões, como afirmou na entrevista antes de entrar para o governo. Agora, parece pronta para uma nova batalha.

Susana Díaz: A ambição nacional da "Maquiavel de Sevilha"

Tem fama de mulher dura, implacável com os seus adversários e acima de tudo ambiciosa. Adjetivos que já lhe valeram ser apelidada de "Maquiavel de Sevilha". Susana Díaz, nascida naquela cidade há 41 anos, fez o seu percurso profissional dentro do PSOE e no governo da Andaluzia. E agora, mais uma vez, fala-se do seu desejo de se tornar na líder máxima dos socialistas espanhóis. Para isso terá de afastar Pedro Sánchez, o secretário-geral que ajudou a eleger em julho de 2014, mas com quem tem desde então uma relação marcada pelo desafio mútuo.

Oriunda de uma família humilde, filha de um canalizador e de uma dona de casa, é a mais velha de quatro raparigas. Estudou Direito na Universidade de Sevilha enquanto trabalhava como vendedora da Avon e dava catequese numa igreja do seu bairro - Susana é devota da Virgem de Triana e da Virgem do Rocio.

Nasceu no bairro sevilhano de Triana, onde morou com os pais e onde vive agora com o marido, José María Moriche, com quem casou em 2002. Díaz é discreta com a sua vida pessoal, só não conseguiu fugir à exposição da gravidez, que coincidiu com a campanha para as autonómicas de 22 de março. O filho, nasceu a 30 de julho. Do marido sabe-se muito pouco, trabalha numa cadeia de livrarias, na reposição de material, e em casa ocupa-se da cozinha. Os dois partilharam a licença de paternidade do filho, até porque Susana Díaz voltou a assumir a presidência da Andaluzia após 45 dias de paragem. O casal é adepto do Betis, um dos clubes de futebol de Sevilha.

A melhor governante

Com 17 anos, Susana juntou-se à Juventude Socialista. Aos 25 já era vereadora em Sevilha, ao lado do seu ídolo, Alfredo Sánchez Monteseirín. Depois bandeou-se para o lado de José Antonio Viera e juntos apoiaram Juan Espadas como candidato do PSOE às municipais, "destruindo" Monteseirín. Mais tarde, quando Viera foi apanhado no escândalo dos ERE, voltou a mudar de mentor: o presidente andaluz José Antonio Griñan... e a sua vida nunca mais foi a mesma.

Díaz passou de vereadora a líder do governo da Andaluzia em setembro de 2013, um mês depois de Griñan renunciar ao cargo, também por causa do caso ERE, relacionado com o desvio de fundos públicos.

Esta sua ascensão coincidiu com uma crise no PSOE liderado por Alfredo Pérez Rubalcaba e Díaz soube aproveitar a oportunidade e ganhar notoriedade nacional. Em 2014, até pensou em candidatar-se à sucessão de Rubalcaba, mas optou por apoiar Pedro Sánchez para secretário-geral, reiterando que o seu compromisso era com a Andaluzia. Figuras de vulto do PSOE, como o ex-primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero, consideram-na "a melhor governante" do país, e preferiam que o partido fosse liderado por ela.

Como tinha chegado à presidência da Andaluzia sem ir a votos, e alegando um ambiente de desconfiança dentro do governo de coligação com a Esquerda Unida, Susana Díaz anunciou a 25 de janeiro deste ano o fim da aliança. Venceu, sem maioria, as eleições de 22 de março, mas só conseguiu tomar posse como presidente quase três meses depois, após muitas negociações com os outros partidos representados no parlamento andaluz.

Neste ano e meio, os socialistas, e não só, têm seguido a rivalidade entre Díaz e Sánchez, que ameaça a unidade do PSOE e que ambos só suspendem em tempo de eleições. Como aconteceu nas legislativas de dia 20. Na campanha, Susana Díaz não se cansou de repetir que Pedro Sánchez era um "candidato magnífico". Assim que foram conhecidos os resultados, os piores de sempre do PSOE, e Sánchez falou numa possível aliança com o Podemos, não tardou que Díaz viesse a público dizer que tal estava fora de questão e a lembrar ao secretário-geral que todas as decisões têm de ser aprovadas pela comissão federal, da qual faz parte e onde tem influência. Outro objetivo de Díaz é impedir que Sánchez adie o congresso do PSOE para a primavera e seja o candidato a primeiro-ministro em caso de eleições antecipadas em março. Um lugar que pode querer, desta vez, para si.

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