Seis meses depois, Trump não exclui voltar a Acordo de Paris

Presidente foi sempre muito crítico dos termos acordados para o seu país em 2015. Com renegociação, pode mudar de ideias.
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Acordo de Paris sobre alterações climáticas é "um mau acordo", mas os Estados Unidos poderão voltar atrás na decisão de se desvincularem do documento adotado numa cimeira na capital francesa em final de 2015.

"Honestamente, não tenho qualquer problema com esse acordo em geral, mas tenho um problema com o acordo que foi assinado", afirmou o presidente Donald Trump, falando numa conferência de imprensa com a primeira-ministra norueguesa, Erna Solberg, em Washington na noite de quarta-feira.

O que o presidente dos EUA quis dizer, na peculiar formulação de frases que é um dos seus traços característicos, é que está contra disposições específicas do Acordo de Paris que, em sua opinião e da indústria mineira americana, são prejudiciais para o setor no seu país. "Somos ricos em gás, carvão, petróleo", entre outras fontes de energia, e "as nossas empresas saíram muito maltratadas" nas negociações. E culpou a presidência de Barack Obama: "como sempre, assinaram um mau acordo" em que os EUA "foram tratados de forma muita injusta". A serem possíveis novas negociações, "podemos perfeitamente voltar atrás" e Washington regressar ao acordo.

Não é a primeira vez que Trump deixa em aberto a possibilidade dos EUA reintegrarem o Acordo de Paris, em que as metas são estabelecidas pelos próprios países e sem data limite para a sua concretização. Mas têm-no feito sempre de forma evasiva. Os EUA anunciaram a saída em junho de 2017, mas a retirada efetiva só produz efeitos em novembro de 2020. Washington comprometeu-se a reduzir entre 26% e 28% as suas emissões de gases de efeito estufa até 2025, tendo como referência o valor daquelas emissões em 2005. Trump sempre disse, e isto de forma clara, que aqueles valores eram exagerados face ao que fora definido pela China, que o presidente também sempre tem dito ser o principal (e "desonesto") adversário económico dos EUA. E que as empresas e contribuintes americanos estavam a ser penalizados pelos compromissos assumidos pela administração Obama. Na época em que foi formalizado o anúncio, a Casa Branca deixara subentendido que a saída só se concretizaria, se não fossem identificadas alternativas mais favoráveis" para o país.

O facto do presidente americano ter feito estas declarações ao lado da governante norueguesa, país que tem importantes reservas de petróleo e gás natural mas foi o primeiro a ratificar o acordo (e que aposta nas energias alternativas), estava ontem a ser interpretado como resultado das explicações de Erna Solberg sobre o valor económico das novas energias. Após a Casa Branca ter anunciado a decisão de sair do Acordo de Paris, o multimilionário Michael Bloomberg, crítico frontal de Trump na questão, afirmou que era o melhor que podia suceder às indústrias americanas, pois as empresas iriam empenhar-se, de livre vontade, em cumprir as metas.

Durante a conferência de imprensa, a chefe do governo de Oslo martelou a ideia de que, com leis rigorosas para fazer cumprir as metas de Paris, "criámos também uma atmosfera muito favorável para as tecnologias amigas do ambiente e do clima". No registo já tradicional de proferir declarações num sentido e outras no oposto das primeiras, Trump elogiou a "espantosa indústria hidroelétrica norueguesa" e disse que "gostaria que pudéssemos fazer algo semelhante". Noutro ponto da conferência de imprensa dissera algo contraditório: "sou totalmente a favor do recurso ao petróleo, ao gás e a tudo o mais que produza o máximo de energia".

A conferência de empresa não foi só sobre questões energéticas, Trump referiu o início da entrega de novos aviões de combate "F-52 e F-35" à Noruega, cometendo neste anúncio um sério deslize: os "F-52 só existem no jogo Call of Duty!

Noutro plano, falando sobre a investigação do procurador especial Robert Mueller e a hipótese de ser ouvido por este, Trump insistiu não existir qualquer conluio entre a sua campanha e personalidades russas. E quase afastou taxativamente a realização de uma conversa com Mueller. "Quando não há qualquer conluio e não há provas de qualquer conluio, acho difícil termos sequer uma entrevista". Mais uma vez, os media recordavam que há meses, em junho de 2017, se mostrara "mais do que feliz" em falar com o procurador. As negociações entre a equipa do procurador e os advogados do presidente prosseguem para estabelecer os termos da eventual entrevista.

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