Segunda execução em dois dias. Trump acelera antes do fim do mandato
As autoridades americanas realizaram a 10.ª e última execução do ano, na sexta-feira, devido à decisão do presidente Donald Trump de aplicar uma série de penas capitais antes de deixar o cargo.
Alfred Bourgeois, condenado à morte pelo assassinato da filha de 2 anos, recebeu a injeção letal na prisão de Terre Haute, Indiana, um dia após a execução, no mesmo local, de outro condenado, Brandon Bernard.
"Bourgeois foi declarado morto às 20:21 locais", anunciou a penitenciária federal em comunicado.
Após um teste de paternidade, o ex-motorista de camião, de 55 anos, assumiu a guarda temporária da sua filha durante parte do verão de 2002. Abusou da criança e esmagou o crânio da menor contra o para-brisa. Devido ao facto de o crime ter acontecido numa base militar onde Bourgeois realizava uma entrega, foi julgado num tribunal federal e condenado à morte em 2004.
Os Estados Unidos suspenderam as execuções federais a partir de 2003, principalmente devido a dúvidas sobre a legalidade das drogas administradas aos condenados.
No entanto, Trump suspendeu essa moratória em julho, embora os estados que ainda usam a pena de morte tenham adiado a sua aplicação devido aos perigos que ela representa para funcionários da prisão e testemunhas durante a pandemia de covid-19.
Sete execuções federais ocorreram antes das eleições de 3 de novembro, que Trump perdeu para o democrata Joe Biden. O presidente eleito prometeu trabalhar com o Congresso para pôr um fim às execuções federais.
Durante 131 anos, os presidentes em fim de mandato suspenderam as execuções federais durante o período de transição. Mas o governo Trump prosseguiu com as execuções. Os advogados de Bourgeois pediram a intervenção do Supremo Tribunal, alegando que o condenado sofria de uma deficiência mental.
Esta foi a 17.ª execução em 2020, a 10.ª na esfera federal, o maior número em mais de um século.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) expressou na sexta-feira a sua "preocupação" com o planeamento da "série" de execuções nos Estados Unidos.
"Durante décadas, a CIDH apontou a pena de morte como um desafio crítico aos direitos humanos", disse a entidade, especificando que os Estados Unidos "são o único país do Hemisfério Ocidental que atualmente executa pessoas condenadas à morte".