"Se Trump vencer as eleições, Bolsonaro ainda pode ter longa vida"
Jair Bolsonaro aproveitou-se de uma "tormenta perfeita" para conseguir ser eleito Presidente do Brasil, vendendo a ideia de garantir segurança a um país que vive mergulhado na violência, disse à Lusa o cientista político Andrés Malamud. E acredita que Bolsonaro está dependente da vitória ou derrota de Donald Trump nas próximas eleições presidenciais.
"[O Presidente brasileiro, Jair] Bolsonaro, que assumiu o cargo em 2019] Aproveitou-se de uma 'tormenta perfeita', que é um conjunto de fatores que raramente se encontram juntos", afirmou Andrés Malamud.
"Entretanto, aqui combinaram-se diversos fatores. Os mais conhecidos são a crise económica, com a descida do PIB (Produto Interno Bruto), a recessão, e a crise política, com a excessiva fragmentação política, que levou o Governo da (ex-Presidente) Dilma Rousseff a ter 38 ministros de 10 diferentes partidos", indicou o investigador do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa.
Para o professor, os outros fatores são a corrupção, "que para muita gente despoletou a crise" no país. "O quarto fator, que para mim é o mais relevante, o nível de violência social e política. Há 60 mil homicídios por ano no Brasil. O país tem 3% da população mundial e 15% dos homicídios", disse.
"Bolsonaro não é um acaso. Ele está aí porque oferece, e vamos ver se também entrega, segurança num ambiente criminoso que a vida não vale nada. Os brasileiros, em parte, responderam a esta insegurança e a essa criminalidade", votando em alguém que prometeu segurança, avaliou.
Segundo o investigador, "como acaba o Governo de Bolsonaro, ninguém sabe". "O que posso dizer é que se (o Presidente norte-americano, Donald Trump) não for reeleito, Bolsonaro acaba-se logo, mas se Trump vencer as eleições, como é possível que aconteça, Bolsonaro ainda pode ter longa vida", disse o cientista político.
O investigador lembrou a estreita relação político-diplomática entre os Governos de Donald Trump e Jair Bolsonaro, que estão alinhados em vários temas.
No que toca a outro país da América Latina, Malamud declarou que na Venezuela "há uma ditadura" e não considera o atual Governo de Caracas como sendo de "esquerda". "Há vários cenários possíveis (para o Governo do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro). Eu comparo-o muito com a 'Primavera Árabe'. Ou mais ainda com um país que não é árabe e sim africano, o Zimbabué", disse.
Para o investigador, "no Zimbabué existe uma coexistência eterna entre catástrofe económica e estabilidade política. As pessoas migram ou morrerem à fome, no entanto, o Governo continua na mesma".
"O que vemos na Venezuela é isso, continua a ser o cenário mais provável. Se mudar, pode ser para pior, como no caso da Líbia, com o Estado deixar de existir na prática e bandos e máfias a controlar o território. Ou então como no exemplo do Egito, de Maduro sair e o regime ficar", disse.
"A democracia é altamente improvável na Venezuela", nos próximos dois ou três "a democracia não é nada plausível na Venezuela", acrescentou.