Puigdemont entre a espada de Madrid e a parede eleitoral

Eleições são um passo para evitar aplicação do artigo 155.º, mas Madrid exige mais. Senado oferece espaço para debate entre primeiro-ministro e presidente catalão
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Além das pressões oriundas de Madrid, que sobem a cada dia de tom, Carles Puigdemont está a ser instigado por elementos do próprio governo para convocar eleições antecipadas. E é por esse cenário que deverá decidir, segundo o La Vanguardia. O diário catalão adianta que, na reunião de terça-feira do Consell Executiu, os consellers do PDeCAT (centro-direita) e dois da ERC (esquerda) defenderam esta solução em vez de se proclamar a independência, com todas as consequências que daí adviriam. A CUP, formação de extrema-esquerda, que não está na coligação, rejeita eleições antecipadas ("a ferramenta mais eficaz, demolidora e mortal para abortar" o processo secessionista) e volta a exigir a declaração unilateral de independência.

O governo de Mariano Rajoy sobe o tom para que o presidente da Catalunha, Carles Puigdemont, recue em toda a linha. Ou seja, não basta convocar eleições para o executivo catalão salvar a face e evitar que o artigo 155.º da Constituição seja aplicado. Na terça-feira foi a vez de se ouvirem os ministros da Justiça e da Saúde. "As coisas não são corrigidas só com a convocação de eleições. O líder da Generalitat deve esclarecer se proclamou ou não a independência, se vai cumprir as leis e respeitar as decisões dos tribunais", afirmou aos microfones da RNE o ministro da Justiça, Rafael Catalá. Já a ministra da Saúde, a barcelonesa Dolors Montserrat, pediu aos independentistas desiludidos para convencerem Puigdemont a "regressar à legalidade". "É evidente que quebraram", e exemplifica com Santi Vila, membro do govern com a pasta da Indústria, que não esconde estar contra o rumo dos acontecimentos. Outras vozes do Partido Popular fazem coro com os ministros. E há quem exija um "pedido de desculpas ao povo catalão e ao resto do povo espanhol pelos males causados", caso do porta-voz dos conservadores no Parlamento, Rafael Hernando.

Os socialistas, numa posição delicada, não subscrevem a estratégia dos populares. O PSOE diz-se "com Espanha, não com o governo", não só porque no capítulo da autonomia defendem um modelo federal do Estado, mas também porque a sua estrutura catalã, o PSC, não coincide em toda a linha com o que é decidido em Madrid. O PSOE voltou a dizer que defende a aplicação do artigo da Constituição que demite o governo catalão e convoca eleições num prazo de seis meses se o presidente da Generalitat não o fizer entretanto. A porta-voz do PSOE no Congresso, Margarita Robles, assim o sentenciou: "Se Puigdemont convocar eleições, não faz sentido pôr em andamento o mecanismo do 155.º."

Há socialistas com um tom mais próximo do PP: "Se Puigdemont convocar eleições e chamá-las de constituintes manifesta uma vontade de permanecer na ilegalidade. Não vamos dar marcha-atrás se não houver uma vontade inequívoca", disse ao El País Óscar Puente, porta-voz do PSOE. Ouvido no Parlament, o único senador socialista pela Catalunha, José Montilla, não poupou Puigdemont nem Rajoy e disse ser "imperativo evitar o artigo 155.º e convocar eleições antecipadas". O antigo presidente da Generalitat não esclareceu se vai votar favoravelmente a proposta do governo.

Se Puigdemont não saiu do mutismo quanto à questão das eleições, também não respondeu ainda se irá estar presente no Senado para se explicar perante os representantes de Espanha. Ontem, o vice-presidente da câmara alta, Pedro Sanz, fez saber que, caso o presidente da Catalunha se desloque a Madrid, poderá criar-se espaço para um debate com um representante do governo ou mesmo com Mariano Rajoy. "Teria um valor extra porque de alguma forma o president da Generalitat iria submeter-se ao sistema, que é participar no jogo parlamentar, o que o leva a aceitar o resultado final", comentou Sanz.

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