Proliferação e nova corrida às armas dominam cimeira nuclear

Ameaça norte-coreana e receio de ver o Estado Islâmico obter uma "bomba suja" estão no centro de encontro que surgiu em 2010 por iniciativa de Barack Obama. E que pode ser o último.
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A redução dos arsenais atómicos, a segurança das instalações nucleares pelo mundo fora, a possibilidade de o Estado Islâmico (EI) se dotar de arsenal radioativo (as chamadas "bombas sujas"), a ameaça da proliferação e os perigos de uma Coreia do Norte com a bomba atómica, são os principais temas da 4.ª Cimeira sobre Segurança Nuclear, ontem iniciada em Washington.

As expectativas de resultados não são elevadas. A reunião foi boicotada pela Rússia, segundo potência nuclear no mundo, no quadro das tensões entre os dois países, nomeadamente no conflito no Leste da Ucrânia. Todavia, estão em Washington cerca de 50 chefes do Estado e do governo. Um dos principais tópicos é o cenário de o EI tentar obter tecnologia e ingredientes necessários para construir uma "bomba suja", ou seja, um engenho convencional com a capacidade para, com a explosão, dispersar elementos radioativos.

A anteceder a cimeira, o presidente americano publicou um artigo no The Washington Post em que salienta serem os "nossos enormes arsenais da época da Guerra Fria inadequados para enfrentarem as ameaças atuais". Noutro ponto do texto, Obama argumenta a favor de uma nova negociação entre os EUA e a Rússia para "reduzir ainda mais" os respetivos arsenais.

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A cimeira surgiu por iniciativa de Barack Obama, na sequência de um discurso na capital checa, Praga, em 2009, tendo-se realizado a primeira reunião em 2010. O objetivo era libertar o mundo de todo o armamento nuclear, o que está bem distante de suceder. Pelo contrário, como mostra a insistência norte-coreana em se dotar de uma bomba nuclear ou, como recordava ontem a Reuters, a diversificação do arsenal do Paquistão, que está a multiplicar os mísseis nucleares táticos. Por outro lado, estava ontem a ser dado como duvidosa a continuação das cimeiras com o sucessor de Barack Obama.

Sobre o alcance destas reuniões, era ontem notado que se Obama conseguiu persuadir alguns países a suspender programas nucleares e a garantir a segurança ou a eliminação de arsenais atómicos, importantes questões sobre a segurança de instalações nucleares continuam por responder e assiste-se a nova corrida aos armamentos.

A ONG americana Nuclear Threat Initiative divulgou um relatório sobre as condições de segurança em instalações nucleares, como reatores, ou no transporte de materiais radioativos é insuficiente em sete dos 24 países objeto de estudo. Entre eles, a Bélgica e a China, cujos critérios de segurança estão abaixo do mínimo exigido, designadamente em matéria informática.

No segundo caso, os EUA estão a construir novas gerações de submarinos, bombardeiros, mísseis e ogivas nucleares ao mesmo que a Rússia procede à modernização e substituição dos sistemas de armas suscetíveis de utilização com armamento nuclear. Analistas sublinham que algo semelhante está a suceder com a China e que não é de esperar que Índia e Paquistão desistam da corrida às armas nucleares em que estão envolvidos. Um cenário, que com a ameaça resultante de uma Coreia do Norte nuclear, são os fatores mais desestabilizadores na cena internacional.

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Para responder a esta última ameaça, Obama manteve um encontro trilateral com a presidente da Coreia do Sul, Park Geun-Hye, e com o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, tendo sido acordada a aplicação das novas sanções do Conselho de Segurança da ONU decididas após o quarto ensaio nuclear do regime de Pyongyang, a 2 de março. Além deste encontro, Obama teve reuniões individuais com o presidente chinês, Xi Jinping, e com François Hollande.

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