Prokopios Pavlopoulos: "O comportamento de Portugal relativamente à Grécia foi exemplar"
A Grécia enfrenta uma situação de grande desafio, tanto orçamental como a nível de acolhimento de refugiados. A Europa tem sido suficientemente solidária?
Primeiramente, e com a necessária clarificação de que estamos a falar de refugiados verdadeiros, que têm direito de asilo nos termos do direito internacional e europeu, especialmente os refugiados trágicos como é o caso dos da guerra na Síria, nós gregos cumprimos a nossa obrigação, não porque esperamos algo em troca, mas porque é um imperativo da nossa cultura e democracia. Para responder, a Comissão Europeia mostrou a solidariedade necessária relativamente à Grécia em ambas as áreas. Certamente nós esperamos reações ainda mais "oportunas" da Comissão Europeia particularmente na recolocação dos refugiados segundo o que foi acordado. E, por outro, a atitude certa quanto à distinção entre refugiados e imigrantes ilegais, porque estes últimos não são sujeitos no tratado sobre imigração e asilo de proteção dos refugiados; então o repatriamento para os respetivos países por iniciativa dos órgãos competentes da União Europeia torna-se mais fácil. No entanto, tenho de mencionar que existe uma falta de solidariedade por parte de alguns dos nossos parceiros de UE que mostram fobias, completamente incompatíveis com a democracia e a cultura europeia. Gostaria de relembrar que em relação ao princípio da solidariedade - e no campo de refugiados no pleno respeito do direito - a violação da legislação implica sanções, nomeadamente no âmbito do artigo 80 do Tratado sobre o Funcionamento da UE.
E Portugal? Como avalia a atitude do país em relação à Grécia, com a qual partilha tantos problemas?
O comportamento de Portugal relativamente à Grécia e aos nossos problemas comuns, literalmente - e não exagero por ocasião da minha visita - foi exemplar. Em geral, Portugal é um parceiro exemplar dentro da União Europeia e o núcleo duro da zona euro. O povo português é profundamente um povo europeu, no sentido que compartilha plenamente os princípios e os valores da democracia e da cultura europeia. E isto não poderia ser de outro modo, quando Portugal tem uma longa história na Europa, uma vez que foi um "império do mar" e que deu uma grande contribuição para a identidade e o poder do nosso velho continente.
É de um partido de direita mas foi eleito com apoio do esquerdista Syriza, que governa a Grécia. Foi prova da maturidade da classe política e de unidade nacional num momento difícil?
Devo explicar que a eleição do presidente da República não resulta do sufrágio direto e universal, mas sim de uma maioria qualificada do Parlamento. Sendo uma democracia parlamentar presidencial, os poderes do presidente são limitados e o papel de "regulador" torna-se importante em tempos de crise. Neste contexto, para alcançar a maioria na eleição do presidente da República da Grécia, tornou-se uma tradição o candidato ser uma pessoa de consenso, que advém não da maioria mas da minoria, nomeadamente da oposição. Neste sentido, podemos dizer que a tradição mencionada comprova que ao longo do tempo, quando necessário pela unidade nacional, o mundo político da Grécia tem vindo a amadurecer.
De que forma Grécia e Portugal podem trocar experiências para não repetirem as crises recentes?
Acho que a Grécia e Portugal, como Estados membros da UE e do núcleo duro da zona euro, têm consciência europeia clara e a orientação europeia que podem e devem compartilhar experiências, em primeiro lugar sobre como foi criada a crise que afetou os nossos países. Em segundo lugar, quanto ao que são as políticas que devem ser seguidas no futuro, para não duplicar as crises precedentes. Aqui, sublinho que os nossos dois países podem e devem trabalhar em conjunto para fornecer a necessária reorientação para toda a política económica da UE, particularmente na zona euro. Não esqueçamos que a crise financeira é geral à UE e particularmente a zona euro. Assim, a Grécia e Portugal, e outros parceiros, podem demonstrar à restante UE que é necessário a mudança imediata da política de hoje, a austeridade sem saída. Uma política que reduz o PIB da maioria dos Estados membros e tem impacto negativo no desenvolvimento sustentável da União Europeia e na sua coesão social. Esta política deve ser substituída por uma política económica que combina a luta contra o défice, o desperdício e a crise da dívida para alcançar o desenvolvimento sustentável. Esta política deve ser baseada a partir das reformas necessárias e do investimento adequado e concebida para aumentar a receita e a procura. Tal política apoiará os valores fundamentais da democracia e da cultura europeia, ou seja o Estado social de direito.
Quais são as áreas específicas para uma maior cooperação bilateral?
Acrescentando ao que foi dito anteriormente, com base na história e na tradição dos nossos povos, encontramos terreno fértil para cooperar, principalmente nas áreas de educação, de tecnologia e de cultura. Também Grécia e Portugal têm muito a beneficiar de uma estreita cooperação no turismo, no mar e nos produtos agrícolas e alimentares.
Qual é a situação atual na Grécia, com 1,5% de crescimento do PIB? Há otimismo sobre o futuro do país por parte da população?
O povo grego tem, com enormes sacrifícios, avançado seguramente na UE e na zona euro. Estamos otimistas sobre o futuro da Grécia. Mas isso depende dos nossos parceiros e da UE, que devem compreender os sacrifícios do povo grego de acordo com a democracia e a cultura europeia. A economia serve o homem e não o inverso. E isso não é apenas sobre o nosso próprio futuro mas sim relativo ao futuro da UE.
Há hipótese de solução para a divisão de Chipre. A Grécia acredita ser possível um entendimento viável entre cipriotas gregos e cipriotas turcos?
Relativamente à questão de Chipre - e obviamente com a clarificação que isto é uma questão internacional e principalmente uma questão europeia - procuramos o mais rapidamente possível uma solução justa e sustentável. Mas a República de Chipre, como pleno membro da União Europeia, não pode ser concebida como uma soberania limitada, a qual poderá provocar as forças de ocupação e as garantias ultrapassadas de terceiros. Isto é completamente contrário a qualquer noção de direito internacional e europeu. Além de criar um perigoso e destrutivo precedente para a soberania de cada Estado membro da União Europeia.
Como vê a Grécia a instabilidade na vizinha Turquia?
Com grande preocupação. Como tenho repetidamente assegurado ao presidente da Turquia, Erdogan, durante as nossas conversas telefónicas, a Grécia deseja a estabilidade democrática e política na Turquia. Não se pode esquecer que a Grécia foi o primeiro país que ficou ao lado do Sr. Erdogan quando aconteceu o golpe contra ele. Sublinhamos, em todas as oportunidades, ao Sr. Erdogan que a União Europeia e a Grécia são a "porta" mais honesta e mais adequada da Turquia para o Ocidente. Desejamos estabilidade e prosperidade ao povo turco e somos sempre aqueles que queremos manter relações pacíficas e amigáveis com todos os nossos vizinhos, mas temos de esclarecer que nunca vamos desistir, nem um pouco, naquilo que reconhece o nosso direito internacional e europeu.
País da NATO mas culturalmente próxima da Rússia, qual é a posição da Grécia em relação às novas tensões entre Washington e Moscovo?
Nós gregos temos demonstrado que, como tinha sublinhado o grande líder do nosso país, Konstantinos Karamanlis, "pertencemos ao Ocidente". Somos, e seremos sempre assim, uma república representativa que pertence ao núcleo da União Europeia e que respeita plenamente os princípios e os valores da civilização ocidental. No entanto, acreditamos que a cooperação com a Rússia, e em particular a aproximação e a cooperação entre a União Europeia e a Rússia, é de interesse para a nossa família europeia. Qualquer renascimento da "Guerra Fria" seria um golpe mortal para a União Europeia e para a paz mundial. Embora seja crença comum agora que a tão necessária para a Europa paz mundial, na Síria e no Médio Oriente, exige uma parceria verdadeira com a Rússia.
Se tivesse de convidar os portugueses a visitar a Grécia, que palavras escolheria?
O povo português é sempre bem-vindo na Grécia para compartilhar as nossas esperanças e desafios, por ambos os povos e também para a nossa grande família europeia, que vamos apoiar para ficar estável e para florescer.