Progressos mas não acordo após reunião entre ERC e Puigdemont

Objetivo do encontro em Bruxelas era conhecer o plano do ex-presidente da Generalitat para ser investido. Crescem as pressões para haver um líder efetivo e outro simbólico. Mariano Rajoy pede um candidato que cumpra a lei
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Uma delegação da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) viajou ontem até Bruxelas para conhecer o plano de Carles Puigdemont para conseguir uma "investidura efetiva" que permita formar governo. O encontro, no qual também participaram deputados do Junts per Catalunya, terá acabado com progressos, mas não um acordo, segundo indicaram fontes independentistas aos jornais espanhóis. A ERC estará inclinada para a hipótese de eleição de um presidente efetivo, que governe na Catalunha, ficando Puigdemont na capital belga como presidente simbólico. Mas o Junts não quer renunciar à investidura.

Puigdemont, sempre ativo nas redes sociais, limitou-se ontem a publicar uma mensagem no Instagram, de uma janela com gotas de chuva, junto com um poema do catalão Miquel Martí i Pol. "Este rumor que se ouve não é de chuva", diz o início. Mas do encontro nem uma palavra, com as fontes a revelar contudo aos media espanhóis que chamou o grupo parlamentar para uma reunião esta segunda-feira com vista a "desbloquear a investidura".

O Tribunal Constitucional, numa decisão preventiva, estipulou que Puigdemont não pode ser investido à distância e tem que pedir autorização ao juiz Pablo Llarena, que investiga o processo independentista no Supremo Tribunal, para poder assistir à investidura. Isso levou o presidente do Parlamento catalão, Roger Torrent, a adiar a sessão de investidura prevista para a passada terça-feira. A número dois da ERC, Marta Rovira, apelou a uma fórmula que não implique mais consequências judiciais. "Continuamos a trabalhar para encontrar a via para tornar possível uma investidura efetiva que permita recuperar as instituições e acabar com o artigo 155.º", disse Torrent no sábado à noite.

Mas da parte da ERC crescem as pressões para que Puigdemont possa ser apenas um presidente simbólico, com outro efetivo a levar as rédeas da Generalitat. "Pode ser que tenhamos um governo, um presidente absolutamente legítimo em Bruxelas, e depois, um governo executivo, que governe", afirmou à Catalunya Radio o deputado da ERC no Congresso espanhol, Gabriel Rufián. "Sou partidário de que Puigdemont seja presidente, mas não queremos mais ninguém na prisão", acrescentou Rufián, que visitou o líder Oriol Junqueras na prisão no sábado. "Qualquer independentista que se sinta derrotado que vá a Estremera vê-lo", disse.

Também Ernest Maragall, irmão do ex-presidente da Generalitat Pasqual Maragall, defendeu que "um não presidente não vale nem mais um prisioneiro". Ao jornal Ara, o deputado da ERC no Parlamento catalão admitiu que os independentistas não podem "prescindir do ativo Puigdemont. Se agora encontrarmos uma via para que possa culminar a investidura, fantástico. Trabalhamos para isso". Contudo, defendeu a necessidade de "um governo que funcione, com um presidente que possa constituir um governo".

Numa entrevista ao El Mundo, o ex-primeiro-ministro espanhol, Felipe González, avisou os catalães de que "estão mais próximo de perder a autonomia do que ganhar a independência". E teceu duras críticas a Puigdemont: "Confunde imunidade parlamentar com impunidade. Uma pessoa que está acusada de cometer crimes graves não pode achar que, passando por um processo eleitoral, fica imune e impune. A grave irresponsabilidade da situação institucional da Catalunha é a grave irresponsabilidade de Puigdemont e de quem o rodeia."

Rajoy pede outro candidato

O primeiro-ministro espanhol pediu ontem aos independentistas catalães que designem um candidato que respeite a lei para presidir à Generalitat. Numa reunião partidária em Córdoba, Rajoy disse esperar que seja nomeada "uma pessoa que veja as coisas de uma outra forma e que diga sou um governante e por isso vou cumprir a lei, porque é a minha obrigação e é o que se faz em países democráticos, civilizados e avançados como Espanha".

O primeiro-ministro e líder do Partido Popular reiterou ainda que "ninguém poderá dizer que o PP aceitou qualquer chantagem da Catalunha, porque não aceitámos". Rajoy indicou que até Puigdemont reconhece isso. O chefe do governo referia-se às mensagens que o ex-presidente da Generalitat enviou a um dos seus ex-consellers e que foram divulgadas pela Telecinco. "O plano de Moncloa triunfa", escreveu Puigdemont, numa série de mensagens em que dizia que estava a ser sacrificado pelos independentistas.

No sábado à noite, Puigdemont enviou uma mensagem para um ato em Reus, assegurando que não ia "desfalecer" apesar das dificuldades, voltando a apelar à união. "Sei que há dificuldades, já as houve no passado e superámo-las, e fizemo-lo juntos, como fizeram até agora e como vão continuar a fazer no momento em que for necessário", afirmou em vídeo. Puigdemont insistiu que "por mais dificuldades, repressão e injustiça" que haja, Madrid "não poderá apagar todas essas velas", referindo-se às luzes acesas para reivindicar a libertação dos presos presos no evento em Reus.

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