Professores armados e ligeiras proibições é a receita de Trump
Donald Trump esclareceu ontem através do Twitter que nunca disse para se darem armas aos professores. Essa foi, porém, a ideia que saiu do encontro que teve na terça-feira com pais das vítimas e sobreviventes do ataque que custou a vida a 17 pessoas num liceu da Florida, na semana passada.
"O que eu disse era olhar para a possibilidade de se dar armas que ficam dissimuladas aos professores adeptos de armas com experiência ou treino militar ou especial - apenas os melhores. 20% dos professores poderiam disparar se um louco selvagem chegasse a uma escola com más intenções", escreveu o presidente norte-americano. A reunião na Casa Branca, transmitida em direto pela televisão, teve momentos de extrema emoção.
Sentado ao meio de um semicírculo, ladeado por seis estudantes que sobreviveram ao tiroteio de Parkland, e de familiares deste massacre bem como dos de Sandy Hook (28 mortos) e de Columbine (15), Trump garantiu que irá pressionar no sentido de se fazerem controlos mais apertados de antecedentes criminais bem como da saúde mental dos compradores de armas. Mas reiterou a ideia de que não devem existir zonas sem armas: "Para um maníaco, porque são todos cobardes, uma zona livre de armas é "vamos entrar e atacar, porque não vai haver balas para nós"."
A ideia de armar professores e funcionários, submetida a uma sondagem de mão no ar esteve longe de ser popular. O presidente - que levou uma cábula para não se esquecer de mostrar empatia para com as vítimas e próximos, como foi mostrado pelas câmaras - reconheceu que é um tema controverso.
Nicole Hockley, mãe de um menino de seis anos morto na escola de Sandy Hook, mostrou-se contra as armas nos estabelecimentos de ensino. "Mais do que armá-los com uma arma de fogo, eu preferia armá-los com o conhecimento para prevenir estes acontecimentos", disse ao presidente. Andrew Pollack, cuja filha Meadow, de 18 anos, foi assassinada com nove balas na escola Marjory Stoneman Douglas na quarta-feira passada, não quis discutir a questão legal. "É simples. Não é difícil. Protegemos aeroportos, protegemos concertos, estádios, embaixadas (...) O 11 de Setembro aconteceu e os problemas foram resolvidos. Quantas mais escolas, quantas mais crianças terão de ser alvejadas?"
Na sequência do massacre de Parkland o presidente não se referiu ao controlo de armas. Uma semana depois, a força das manifestações dos estudantes parece ter surtido algum efeito. O antecessor de Trump, Barack Obama, também no Twitter, deu conta da força dessa juventude e saudou os "tantos estudantes inteligentes e destemidos que defendem o direito à segurança".
A inflexão de Trump, porém, não põe em causa a segunda emenda da Constituição nem sequer trará grandes mudanças num país que tem quase tantos habitantes como armas na posse de cidadãos. Ainda na semana passada, através da Casa Branca, deu a saber que quer ver o Congresso aprovar a lei Fix NICS, que obriga as agências federais a reportar os antecedentes criminais ao Sistema Nacional de Verificação de Antecedentes Criminal Instantâneo (NICS, em inglês).
Ontem, em reunião com responsáveis da justiça e educação, Trump voltou à ideia dos professores armados, os quais teriam direito "a um pequeno bónus". Na terça-feira, instou o procurador-geral para propor "a proibição de todos os dispositivos [bump stocks] que transformam armas legais em metralhadoras". Trump também advoga a proibição da venda de armas a menores de 21 anos.
Uma ideia que o lóbi pró-armas, a NRA, já condenou em público. Wayne LaPierre propôs como solução para prevenir os massacres nas escolas contratar mais pessoal armado. A NRA apoiou a campanha eleitoral de Donald Trump com 36 milhões de dólares.