Professora despedida por ser lésbica acusa a escola de "hipocrisia"

A professora de teatro garante que não tinha sido informada da política da escola em relação à contratação de professores homossexuais. Despedimento terá ocorrido após denúncia de alguns pais.
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Monica Toro Lisciandro, de 37 anos, acusa a escola católica onde dava aulas de teatro, na Florida, EUA, de a ter despedido por ser lésbica e fala em "hipocrisia" por parte da instituição privada de ensino. Depois de lhe dar um sermão sobre o pecado da homossexualidade, a escola terá insistido para que desse mais uma aula antes de abandonar as funções.

Segundo o The Guardian, a professora, que trabalhava em regime de part-time, sentiu-se envergonhada e humilhada com o tom acusatório usado pelo diretor da escola Covenant Christian, em Palm Bay, e pelo seu assistente, durante uma reunião que terá sido marcada após queixas de alguns pais.

"Eu não falo desta maneira, mas eles disseram: Há informações de que você tem uma relação com uma mulher, participa no Pride e organiza atividades homossexuais no seu estúdio", contou a professora, que é proprietária de estúdio de artes performativas. As atividades, explicou, dizem respeito a um projeto - o Rainbow - para "crianças que procuram um espaço seguro e para o voluntariado na comunidade".

"Era como se eu estivesse suja, mal. Então disse: Sim, é verdade". E foi aí que lhe disseram que não podia continuar a trabalhar na escola, usando um discurso sobre o pecado, que a deixou a chorar.

No final da reunião, Monica, que tem uma relação com Natalia Dick há um ano, ofereceu-se para entregar as chaves e o computador da escola. Mas pediram-lhe para dar mais uma aula, porque não tinham um substituto e não queriam manchar a reputação da instituição.

Numa primeira fase, a escola não terá contado aos pais dos 283 alunos pagantes o motivo do afastamento da professora, que trabalhava na escola há três anos. "Lamento informar que, por razões pessoais, Lisciandro não pode continuar a dar aulas de teatro musical", escreveu Lorne Wenzel, diretor da escola, num email dirigido aos encarregados de educação.

Só mais tarde, quando a história foi publicada no Florida Today, é que o diretor da escola emitiu uma declaração, entretanto divulgada pela NBC, a confirmar os motivos da demissão: "A escola Covenant Christian exige que todos os funcionários estejam de acordo e se moldem à nossa posição sobre sexualidade humana, que é baseada no ensino bíblico que pede a todos os cristãos que se abstenham de qualquer atividade fora do casamento entre um homem e uma mulher". Uma posição que não terá sido apresentada a Monica Toro Lisciandro aquando da sua contratação. "Eles nunca o disseram", garante a professora.

"Se não posso ensinar crianças, se sou boa professora mas não posso ensinar crianças apenas porque sou lésbica [...] É tão hipócrita", afirmou a professora, que foi casada com um homem, com o qual teve três filhos. "Trabalhei muito para me amar a mim própria e me aceitar", assumiu, destacando que chegou a ponderar o suicídio.

Para Monica, o despedimento é um exemplo da falta de proteção que existe para a comunidade LBGTI no mundo laboral, na Florida. Para a próxima primavera, conta o The Guardian, é esperada uma decisão do Supremo Tribunal de Justiça. Atualmente, diz o jornal britânico, apenas 21 estados têm leis que proíbem a discriminação com base na orientação sexual e identidade de género.

Sem proteção legal na Florida, Monica acredita que será difícil lutar contra o seu afastamento da escola, mas espera que a partilha da sua história possa ajudar outras pessoas que passem por situações idênticas.

Na página da escola, é referida uma política de "não discriminação" com base na raça, cor ou origem nacional ou ética.

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