Procuradoria brasileira abre inquérito a alegados subornos a Lula e Dilma
O inquérito foi aberto pelo procurador Ivan Marx, de Brasília, na sequência das revelações feitas por executivos do grupo JBS no âmbito de um acordo de 'delação premiada' (troca de informações comprometedoras em relação a terceiros por uma redução de pena), noticiou na noite de segunda-feira a imprensa brasileira.
Lula e Rousseff, ambos do Partido dos Trabalhadores (PT) e alvo de processos judiciais, foram acusados por executivos da JBS de ter facilitado o acesso da empresa a empréstimos multimilionários do Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES).
Joesley Batista, um dos proprietários da JBS, e o diretor do grupo, Ricardo Saud, afirmaram que os subornos em troca desses favores ascenderam a 80 milhões de dólares (cerca de 71 milhões de euros) e foram depositados em contas bancárias abertas no estrangeiro.
Segundo esses relatos, as vantagens indevidas foram de 50 milhões de dólares (cerca de 44 milhões de euros) no caso de Lula, que governou o Brasil entre 2003 e 2010, e de 30 milhões (26 milhões de euros) no de Rousseff, sua 'afilhada' política e sucessora na presidência, destituída em agosto do ano passado pelo Congresso por supostas irregularidades fiscais.
O intermediário para negociar os valores era, segundo esses depoimentos, Guido Mantega, que foi ministro das Finanças dos governos de Lula e Rousseff.
Batista confessou à justiça que perguntou por várias vezes a Mantega se os dois chefes de Estado estavam a par de todas as negociações e que o ex-ministro sempre o confirmou.
Os advogados de Lula negaram as acusações e garantem que o ex-presidente é inocente, enquanto a defesa de Rousseff rejeitou a versão "fantasiada" de Batista.
A nova investigação complica ainda mais a delicada situação jurídica de Lula, que já responde por cinco processos abertos por alegada corrupção, a maioria dos quais relacionados com os milionários desvios de dinheiro no seio da petrolífera estatal Petrobras.
Apesar do escândalo, Lula aparece bem posicionado nas sondagens no caso de concorrer às eleições presidenciais de 2018, sendo que o próprio manifestou já a intenção de se apresentar como candidato.
Também com base na confissão dos executivos da JBS, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu abrir uma investigação contra o atual Presidente, Michel Temer, por supostos delitos de corrupção passiva, obstrução à justiça e associação ilícita, o que ameaça a continuidade do seu governo.
A polícia brasileira entregou na noite de segunda-feira 84 perguntas a Michel Temer, dando-lhe 24 horas para responder por escrito, ainda que não seja obrigado a pronunciar-se sobre todas as questões.
Segundo informações veiculadas na imprensa local, a maioria das perguntas diz respeito à gravação comprometedora de uma conversa que Temer teve com o empresário Joesley Batista sobre o alegado pagamento de uma mesada ao ex-deputado Eduardo Cunha, que foi presidente do Congresso e principal aliado de Temer no afastamento de Dilma Rousseff da presidência.
Nessa conversa, segundo os áudios divulgados, o Presidente terá recomendado ao empresário "manter" o pagamento de uma verba regular àquele dirigente do seu partido, que está acusado de vários crimes de corrupção.