Presidente ucraniano diz que criou 'offshores' por "transparência"
O Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, afirmou hoje que criou várias sociedades em paraísos fiscais "por motivos de transparência" e para "separar os seus ativos gerados pela sua atividade empresarial" das suas funções públicas.
Poroshenko defendeu-se desta forma das acusações de que tem sido alvo depois de se saber que é o titular de três empresas "offshore", em resultado da divulgação pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, na sigla inglesa) de milhões de documentos ligados a quase quatro décadas de atividade da sociedade de advogados panamiana Mossack Fonseca, especializada na gestão de capitais e de património, com informações sobre mais de 214 mil empresas 'offshore' em mais de 200 países e territórios.
"O meu caso é muito diferente de outros de ocultação de ativos. Não há nenhuma ligação com o Orçamento do Estado nem com as minhas funções públicas", afirmou o chefe de Estado ucraniano, numa conferência de imprensa em Tóquio, antes de se reunir com o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe.
Poroshenko afirmou que o grupo Roshen, o conglomerado empresarial de que é proprietário e que criou em 2014 três empresas 'offshore' nas Ilhas Virgens, Chipre e Holanda, "operou sempre dentro da legalidade e com propósitos claros e transparentes".
A criação do Roshen "foi anunciada publicamente" e o grupo "nunca esteve envolvido em nenhuma atividade de especulação financeira nem de outro tipo", sublinhou Poroshenko, que convidou os jornalistas a "investigar os seus documentos públicos com profundidade", de forma a corroborarem as suas afirmações.
"Não se trata de uma conta opaca nem associada a outras empresas, nem registada com o nome de outros beneficiários, como em outros documentos dos 'papéis do Panamá'. Esta é a grande diferença no meu caso", afirmou.
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Poroshenko declinou indicar se encara a hipótese de se demitir na sequência das revelações, como reclamam alguns líderes da oposição ucraniana, limitando-se a referir que confia numa "solução rápida" para a delicada situação política que atravessa a coligação a que preside, depois de ter ficado em minoria no parlamento.
A maior investigação jornalística da história, divulgada na noite do passado domingo, envolve o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, na sigla inglesa), com sede em Washington, e destaca os nomes de 140 políticos de todo o mundo, entre eles 12 antigos e atuais líderes mundiais.
A partir dos Papéis do Panamá ("Panama Papers", em inglês), como já são conhecidos, a investigação refere que milhares de empresas foram criadas em "offshores" e paraísos fiscais para centenas de pessoas administrarem o seu património, entre eles rei da Arábia Saudita, elementos próximos do Presidente russo Vladimir Putin, o presidente da UEFA, Michel Platini, e a irmã do rei Juan Carlos e tia do rei Felipe VI de Espanha, Pilar de Borbón.