Presidente garante que vai lutar contra destituição

Mais de 80% dos sul-coreanos quer Park Geun-hye abandone o cargo. Milhões de pessoas pediram nas ruas a sua demissão antes de o Parlamento em Seul iniciar o processo.

A esmagadora maioria dos 300 deputados da Assembleia Nacional da Coreia do Sul votaram ontem a favor da destituição da presidente Park Geun-hye, que viu os seus poderes suspendidos com efeitos imediatos. Numa intervenção no último Conselho de Ministros a que presidiu, Park pediu desculpa pelo "caos" que causou, instou os ministros que se concentrem em manter a economia em boas condições e, por outro lado, prometeu que iria enfrentar o caso, a ser analisado pelo Tribunal Constitucional, com determinação e disposta a sair triunfante. A presidência foi assumida, a título interino, pelo primeiro-ministro Hwang Kyo-ahn.

Não é a primeira vez que um presidente sul-coreano enfrenta um processo de destituição. Em 2004, Roh Moo-hyun passou por idêntica situação, mas o Constitucional pronunciou-se em sentido contrário ao do voto parlamentar na época e o presidente acabou por retomar funções. Roh era uma figura bastante popular na vida pública sul-coreana e com um trajeto marcado pela defesa ativa dos direitos humanos antes da liberalização política de 1987. O que está longe de ser a situação da presidente agora suspensa. Park Geun-hye é filha do general Park Chung-hee, que governou de forma autoritária o país desde o início dos anos 60 até outubro 1979, quando foi assassinado pelo diretor dos serviços de informações num caso definido como luta de poder e influência entre os dois dirigentes.

Park Geun-hye tem hoje uma taxa de popularidade de apenas 4% favoráveis, devido ao escândalo que a envolve a si e à sua confidente Choi Soon-sil (a ser investigada por suspeitas de corrupção, extorsão e abuso de poder), com este efeito a repercutir-se no partido a que pertence. O Saenuri (Partido da Nova Fronteira), de centro-direita, tem vindo a cair nas sondagens, estando próximo dos 20%, quando nas legislativas de julho obteve 33,5%. Estava então já em fase descendente e corriam rumores de casos de corrupção envolvendo Choi Soon-sil e deteriorava-se a situação económica, com uma taxa de desemprego de 12,5% entre aqueles à procura de primeiro emprego. Então, pela primeira vez, em mais de 15 anos, um partido no poder caía de uma maioria absoluta de mais de 150 deputados (o Saenuri tinha 152 na legislatura anterior) para 122.

Não admira pois que praticamente um terço dos deputados do partido no governo tenham votado ao lado dos 171 eleitos da oposição pela destituição de Park, somando um total de 234 a favor e 56 contra. Dos 300 deputados, apenas um esteve ausente.

O Constitucional tem 180 dias para se pronunciar, mas a generalidade dos comentadores políticos considerava ontem que a decisão será tomada, o mais tardar, no espaço de 60 a 90 dias e que a decisão provável será a confirmação da destituição da presidente. Além da expressiva votação no Parlamento sul-coreano, era recordada as importantes manifestações nas ruas que acabaram por acelerar a análise do caso pelos deputados.

The Korea Times recordava ontem que, ao surgirem as primeiras notícias no final de outubro, raras figuras políticas tinham pedido desde logo a demissão da presidente e que foram as manifestações iniciadas na noite de dia 29 daquele mês a revelarem-se determinantes para alterarem a situação. Conhecida sob o nome de "revolução das velas", a mobilização popular "tornou-se impossível de ignorar", disse o cientista político Shin Yul. E se naquela noite foram cerca de 20 mil pessoas numa das principais praças de Seul ; uma semana depois eram 300 mil e as mais recentes, antes de ser desencadeado o processo no Parlamento, já mobilizavam quase dois milhões de pessoas. No dia a seguir ao seu início, 2,3 milhões saíram às ruas - foi a maior manifestação alguma vez realizada na história da Coreia do Sul. Uma sondagem ontem divulgada referia que 81% dos inquiridos é a favor da destituição.

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