Presidente da Argélia cede aos protestos e não se recandidata
Em mensagem publicada pela agência oficial APS, o presidente Bouteflika afirma que a eleição presidencial terá lugar "na sequência" de uma conferência nacional para reformar o sistema político e elaborar um projeto de Constituição até ao final de 2019.
O anúncio da recandidatura de Bouteflika, de 82 anos, e num estado de saúde precário desde 2013, causou enormes protestos no país. Às manifestações juntaram-se nas últimas horas juízes, autoridades religiosas e a central sindical.
A Argélia viveu um segundo dia de greve nacional. Após milhares de estudantes terem saído para a rua no domingo (primeiro dia da semana) o governo anunciou a antecipação das férias escolares.
Ao protesto de segunda-feira juntaram-se juízes e advogados. Um autodenominado clube de juízes, que diz representar mil profissionais, afirmou que os seus membros se recusariam a fazer parte das comissões eleitorais. Em Annaba, quarta maior cidade do país, e Bejaia, magistrados e funcionários judiciais juntaram-se à manifestação dos advogados. "É inédito na história da justiça argelina", disse o dirigente da Ordem dos Advogados Ali Moussaoui.
O ministro da Justiça, Tayeb Louh, havia advertido os magistrados, num discurso transmitido na televisão, para os juízes manterem o "dever de reserva e de neutralidade".
Abdelaziz Bouteflika regressou no domingo à Argélia, após ter estado internado num hospital em Genebra para "exames médicos". As sequelas de um AVC impedem Bouteflika de falar em público e tornaram raras as suas aparições públicas.
Desde 22 de fevereiro que os argelinos têm saído às ruas para exigir que o chefe do Estado renuncie à recandidatura do antigo veterano na guerra da independência. O anúncio posterior de que, em caso de vitória, Bouteflika iria apenas cumprir um ano de mandato e renunciar, ainda causou mais mal-estar.
O exército, que tem um papel central no país do norte de África, também dera um sinal de mudança nas últimas horas. Ahmed Gaïd Salah, chefe do Estado-Maior do Exército e vice-ministro da Defesa, disse que o exército "partilha" com o povo argelino "os mesmos valores e princípios", num discurso dirigido aos estudantes de escolas militares. O general usou um tom mais conciliatório do que usara há dias, ao ameaçar o uso da força contra "forças mal-intencionadas e invejosas da estabilidade e da paz que prevalecem."