Prefeito do Rio de Janeiro detido por suspeitas de corrupção
Marcelo Crivella foi detido esta manhã no âmbito da Operação Hades, que investiga um esquema de corrupção da Prefeitura do Rio de Janeiro. Sobrinho de Edir Macedo e aliado de Jair Bolsonaro está a nove dias de terminar o mandato
Uma operação da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio de Janeiro deteve esta manhã o prefeito da cidade, Marcelo Crivella. O também bispo da Igreja Universal do Reino de Deus (IRD), cantor gospel e sobrinho do fundador do culto, Edir Macedo, é suspeito de corrupção em contratos de gestão municipal.
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Esta detenção está ligada à Operação Hades, que investiga um esquema de corrupção da Prefeitura do Rio.
Ao chegar à Cidade da Polícia, no bairro de Jacarezinho, na zona norte do Rio, o ainda prefeito, eleito pelo Republicanos, partido considerado o braço político da IURD, falou rapidamente com os jornalistas que o aguardavam. "Lembrem-se que lutei contra todas as construtoras, lutei contra as portagens ilegais e injustas, tirei recursos do Carnaval, negociei o VLT [veículo leve sobre trilhos], represento o governo que mais atuou contra a corrupção no Rio de Janeiro", disse.
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Questionado sobre as suas expectativas, afirmou esperar que "seja feita a justiça".
Candidato à reeleição nas municipais de novembro com o apoio do presidente da República Jair Bolsonaro, Crivella foi derrotado por Eduardo Paes, que vai tomar posse a 1 de janeiro. Nos nove dias que faltam para terminar o mandato de Crivella e tendo em conta que o seu vice-prefeito, Fernando McDowell, morreu em maio de 2018, o cargo será assumido pelo presidente da Câmara de Vereadores, Jorge Felipe.
Paes sossegou a população afirmando, via redes sociais, que a transição de poder não será afetada pelos acontecimentos. "Conversei nesta manhã com o presidente da Câmara de Vereadores, Jorge Felipe, para que mobilizasse os dirigentes municipais para continuar conduzindo suas obrigações e atendendo a população. Da mesma forma, manteremos o trabalho de transição que já vinha sendo efetuado", disse o futuro prefeito.
Além de Crivella, foram também detidos os empresários Rafael Alves, Adenor Gonçalves e Cristiano Stokler, o delegado aposentado Fernando Moraes e Mauro Macedo, tesoureiro da campanha de Crivella. A polícia ainda não conseguiu localizar o ex-senador Eduardo Lopes, do partido Republicanos.
A investigação começou em 2018, a partir da delação de Sergio Mizrahy, que revelou ser responsável pela lavagem de dinheiro para uma organização criminosa que atuava dentro da prefeitura.
O líder dessa organização seria Rafael Alves, sem qualquer cargo na prefeitura, mas cujo irmão Marcelo era presidente da Riotur. Terá sido através da sua influência que surgiu o esquema de subornos e extorsão de empresários que queriam fazer contratos com a prefeitura.
Nos últimos quatro anos, sete políticos que ocuparam os cargos de governador do estado do Rio de Janeiro ou de prefeito da capital estadual foram presos ou afastados do mandato.
Crivella soma-se aos governadores Wilson Witzel, eleito em 2018 e afastado em agosto sob acusações de corrupção, Luiz Fernando Pezão, governador entre 2014 a 2018, preso em novembro de 2018, por abuso de poder político e económico, Sérgio Cabral, governador entre 2007 a 2014, preso em junho de 2017, e condenado na Operação Lava Jato a uma pena total de 233 anos e 11 meses de prisão, Anthony Garotinho, governador entre 1999 e 2002, preso cinco vezes desde que saiu do cargo, acusado de crimes de corrupção, concussão, participação em organização criminosa e falsidade na prestação das contas eleitorais, a sua mulher Rosinha Garotinho, governadora entre 2003 e 2006, presa em novembro de 2017 ao lado do marido por crimes eleitorais e Moreira Franco, governador entre 1987 a 1991, preso em março de 2019 sob acusação de negociar subornos no valor de um milhão de reais.