Portugal entre os países que boicotam inauguração da embaixada dos EUA em Jerusalém

Maioria dos países da União Europeia boicota inauguração de embaixada americana na cidade disputada entre israelitas e palestinianos. Estes prometem manifestações ferozes a partir de amanhã. Israel ameaça com resposta robusta
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Jerusalém é a terra de que todos falam por estes dias. Netta Barzilai, vencedora israelita da Eurovisão, anunciou que o festival do próximo ano terá lugar em Jerusalém, cidade que há décadas é disputada entre israelitas e palestinianos. Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelita, confirmou, no Twitter, a notícia e festejou a vitória, que surgiu numa altura em que o Estado de Israel festeja os seus 70 anos (foi fundado a 14 de maio de 1948). Hoje, o seu governo deu luz verde à construção de um teleférico entre Jerusalém Ocidental e a Cidade Velha, em Jerusalém Oriental, setor palestiniano ocupado por Israel. E amanhã é inaugurada a embaixada dos EUA em Jerusalém, depois de o presidente Donald Trump ter reconhecido, numa decisão polémica, Jerusalém como capital de Israel.

Mas se o clima é de festa, do ponto de vista dos israelitas, o mesmo não se poderá dizer dos palestinianos, países árabes e muçulmanos, europeus céticos ou críticos em relação à abordagem do presidente norte-americano face ao processo de paz israelo-palestiniano e ao estatuto de Jerusalém. Por isso, dezenas de países decidiram não se fazer representar hoje na cerimónia alusiva à inauguração da embaixada dos EUA, que antes estava em Telavive. Foi o caso de Portugal. República Checa, Roménia, Áustria e Hungria são dos poucos países da União Europeia a marcar presença. Angola, referiu ontem o jornal israelita Haartez, também estará presente, tal como a Guatemala e o Paraguai, sendo que estes dois últimos países também pretendem mudar este mês as suas embaixadas para Jerusalém.

"Portugal não se fará representar na inauguração da embaixada dos EUA em Jerusalém", confirmou o DN junto do Ministério dos Negócios Estrangeiros português. A cerimónia do Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita para assinalar a inauguração da embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém decorreu hoje à noite. Além de Benjamin Netanyahu, este evento contou com a delegação norte-americana enviada para o efeito. Esta inclui a filha do presidente dos Estados Unidos Ivanka Trump, bem como o seu marido e assessor presidencial Jared Kushner. Foram convidados 86 embaixadores e encarregados de negócios, mas a maioria dos Estados europeus não esteve presente por não concordar com a mudança da embaixada de Telavive para Jerusalém, decisão que rompe o consenso da comunidade internacional.

Quando em 1948 foi declarada a independência de Israel e, depois disso houve a guerra israelo-árabe, Jerusalém foi dividida, com a parte Ocidental a ficar para Israel e a Oriental controlada pela Jordânia. Na Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel ocupou a parte Oriental , tendo vindo desde então a construir nessa zona colonatos judaicos. Estes são considerados ilegais pela comunidade internacional, algo que o governo israelita contesta. Os palestinianos, por seu lado, reivindicam Jerusalém Oriental como a capital do futuro Estado da Palestina. Isso mesmo têm reafirmado nas negociações para se chegar a uma solução de dois Estados independentes, vivendo lado a lado, em paz. As negociações têm estado, porém, numa espécie de ponto morto, sem conhecer grandes avanços.

A acrescentar a isto estão os diferentes significados que Jerusalém tem para as várias religiões. Para os cristãos foi o local da paixão, zona onde Jesus Cristo foi crucificado. Para os muçulmanos, é o lugar onde o profeta Maomé ascendeu aos céus e, para os judeus, foi a cidade declarada como capital dos judeus pelo rei David. Por isso, Jerusalém atrai peregrinos de diferentes religiões em busca de lugares sagrados, como Monte Calvário, mesquita de Al-Aqsa ou Muro das Lamentações. Oferecer aos turistas de todo o mundo um acesso confortável à Cidade Velha foi precisamente o argumento hoje usado pelo ministro do Turismo israelita, Yariv Levin, para justificar o projeto do teleférico (no valor de 43 milhões de euros).

Nas críticas à mudança da embaixada dos EUA para Jerusalém tem-se destacado a voz do presidente turco Recep Tayyip Erdogan. "Jerusalém Oriental é a cidade capital da Palestina", disse à CNN, classificando como "grande erro" a decisão de Donald Trump. Este não estará hoje na inauguração, mas falará através de videoconferência. "Jerusalém é a capital de Israel. Isto é algo que tem que ser feito", disse em dezembro o presidente dos EUA. O Hamas, movimento xiita, que controla a Faixa de Gaza (que com a Cirjordânia compõe aquilo a que se chama territórios palestinianos), prometeu grandes manifestações para amanhã e para terça-feira. Israel prometeu, como até agora, uma "resposta robusta".

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