"I can't breathe". Polícia suspeito de asfixiar afro-americano não vai ser acusado
"Não consigo respirar", disse, várias vezes, Eric Garner enquanto o agente da polícia Daniel Pantaleo o estava a agarrar por trás, a apertar-lhe o pescoço com o braço, uma manobra conhecida por "mata leão". O homem acabaria por morrer uma hora depois. Estávamos em julho de 2014 e a detenção foi registada em vídeo. A morte do afro-americano, de 43 anos e pai de seis filhos, originou uma onda de protestos contra a violência policial nos EUA, com milhares a saírem à rua. Esta terça-feira, o Departamento de Justiça decidiu não acusar o polícia suspeito de asfixiar Garner até à morte. Uma decisão que está a originar nova contestação.
O procurador do Ministério Público norte-americano, Richard Donoghue, afirmou que não há indícios suficientes para provar que o agente Daniel Pantaleo praticou uma conduta imprópria, ou seja, que tenha usado intencionalmente força excessiva durante a detenção, o que determinaria uma acusação a nível federal.
"Não há provas suficientes para apresentar queixa federal contra nenhum oficial", afirmou Donoghue durante uma conferência de imprensa. "Aos jornalistas disse que a "morte de Eric Garner foi uma tragédia", mas que o trabalho dos procuradores federais "não é deixar que as emoções ditem as decisões".
De acordo com o procurador, os agentes da polícia que interpelaram Eric Garner, suspeito de vender ilegalmente cigarros, tiveram de tomar "decisões secundárias durante circunstâncias stressantes" e realçou a "diferença significativa" de peso e tamanho entre Daniel Pantaleo e Garner, o que terá impedido o polícia de o deter de forma rápida e sem incidentes.
Richard Donoghue referiu também que a investigação não foi conclusiva sobre se a manobra de estrangulamento usada pelo agente foi a causa direta da morte. Dois médicos ouvidos pelo Departamento de Justiça consideraram que a morte de Garner pode ter sido causada por diversos fatores, além da asfixia. O resultado da autópsia diz que a morte de Garner foi causada pela compressão do pescoço e do peito, para o qual também podem ter contribuído a asma e o excesso de peso da vítima.
Perante estas conclusões, disse Donoghue, o procurador-geral William Bar tomou a decisão de não colocar ninguém no banco dos réus pela morte de Eric Garner.
As reações não se fizeram esperar com destaque para a revolta da família, que fez saber que não vai parar de lutar pela condenação de Pantaleo.
"O Departamento de Justiça desiludiu-nos. Há cinco anos, o meu filho disse que não conseguia respirar onze vezes. Hoje, somos nós que não conseguimos respirar", afirmou Gwen Carr durante uma conferência de imprensa com o ativista dos direitos civis o reverendo Al Sharpton.
"Pantaleo deve ser demitido", sublinhou Sharpton.
Também o presidente da Câmara de Nova Iorque, Bill de Blasio, contesta a decisão e garantiu que a cidade não vai baixar os braços. "Há uns anos, depositámos a nossa fé no governo federal para que fosse tomada alguma iniciativa. Não voltaremos a cometer o mesmo erro. A partir de agora, não vamos esperar pelo governo para começar as nossas próprias averiguações disciplinares", prometeu.
Já em dezembro de 2014, um grande júri decidiu que não havia elementos suficientes para acusar o agente da polícia.
A morte de Eric Garner, juntamente com a de Michael Brown, em Fergusson, no Estado do Missouri, em agosto de 2014, levou milhares às ruas e impulsionou o movimento Black Lives Matter que surgiu no seguimento de vários casos de violência policial contra afro-americanos.
Um dos momentos marcantes da contestação foi quando, em 2016, o jogador de futebol americano Colin Kaepernick, o quarterback que atuava nos San Francisco 49ers, se ajoelhou quando o hino dos EUA tocou antes da partida com os Green Bay Packers.
"Não me vou levantar e defender o orgulho por um país que oprime as pessoas de cor. Para mim, isso é maior que o futebol e seria egoísta da minha parte olhar para o lado. Há cadáveres na rua", explicou na altura o jogador, que se tornou num símbolo do movimento Black Lives Matter.