Países da NATO reafirmam compromissos de investimento e defesa comum
A cimeira anual da NATO, no ano em que comemora 70 anos e marcada pelos desentendimentos entre os países membros, encerrou de forma diplomática. O presidente turco Recep Tayyip Erdogan não levou a ameaça de bloquear os planos de defesa do Báltico e da Polónia até às últimas consequências e o comunicado final conclui em tom otimista. "Numa época de desafios, somos mais fortes como uma Aliança e os nossos povos mais seguros. Agimos hoje para assegurar que a NATO garanta as liberdades, valores e segurança para as gerações vindouras."
A cedência da Turquia foi elogiada pela Lituânia. "Este é um grande feito não só para o nosso país, mas para toda a região, porque garante a segurança dos nossos cidadãos", afirmou em comunicado o presidente lituano, Gitanas Nauseda. A Turquia tinha anteriormente afirmado que se oporia ao plano da NATO a não ser que a aliança aceitasse designar certos grupos, como a milícia curda YPG, de terroristas.
Reunidos num hotel nos arredores de Watford, os chefes de Estado e de governo dos 29 países da Aliança Atlântica acabaram por chegar a um consenso quer em relação ao referido plano de defesa, quer em relação ao comunicado final.
No final da cimeira, que acabou por ser eclipsada pelas reuniões preparatórias de véspera, a NATO emitiu um comunicado na qual os países membros reafirmam "o vínculo transatlântico duradouro entre a Europa e a América do Norte, a nossa adesão aos objetivos e princípios da Carta das Nações Unidas e o nosso compromisso solene, consagrado no artigo 5.º do Tratado de Washington, de que um ataque contra um aliado será considerado um ataque contra todos nós".
A relação com os outros atores internacionais não ficou de fora. Em relação a Moscovo -- um pouco a exemplo do que defende a França --, a Aliança afirma estar "aberta ao diálogo e a uma relação construtiva com a Rússia quando as ações da Rússia tornarem-no possível". No entanto, declara que as "ações agressivas da Rússia constituem uma ameaça à segurança euro-atlântica, pelo que continuará a ser uma aliança nuclear enquanto houver armas nucleares; e quanto a Pequim, reconhece que a "influência crescente e as políticas internacionais da China são ao mesmo tempo oportunidades e desafios".
A declaração assinala ainda que "o terrorismo em todas as suas formas e manifestações permanece uma ameaça persistente a todos". Uma formulação que, segundo o secretário-geral Jens Stoltenberg, terá sido suficiente para convencer o presidente turco a subscrevê-la.
A chanceler alemã, que partira para Londres "relativamente otimista", saiu satisfeita, a avaliar pelo comentário de que a cimeira foi "muito construtiva" e que se chegou a um consenso sobre "o principal inimigo", o terrorismo.
Os países membros convidaram o secretário-geral Jens Stoltenberg a realizar "um processo de reflexão" com o objetivo de "reforçar ainda mais a dimensão política da NATO, incluindo o processo de consultas".
Sobre a partilha de custos da organização e a meta do investimento de cada país equivaler a 2% do PIB, o comunicado congratula-se pelo facto de os gastos (sem contar com os EUA) subirem pelo quinto ano consecutivo. "Estamos a fazer bons progressos. Devemos e iremos fazer mais", lê-se.
"A reunião demonstrou que, fora alguma frase mais mediática que uns ou outros tenham produzido fora deste quadro de debate, a reunião contrariou isso", declarou o primeiro-ministro português António Costa no final, inspirando-se no escritor norte-americano Mark Twain para garantir que a alegada morte da NATO "foi uma notícia bastante precipitada".
As frases mediáticas a que Costa aludiu foram ontem proferidas por Emmanuel Macron e Donald Trump, antes e durante uma conferência de imprensa conjunta marcada por momentos de tensão e na qual ficou à vista de todos as diferenças entre os presidentes francês e norte-americano, com a Turquia e a Síria em pano de fundo.
"Vamos ser sérios", retrucou Macron depois Trump ter dito "Você gostaria de ter um bom combatente do Estado Islâmico? Pode levar todos os que quiser." Depois de Macron ter explicado que a cimeira devia servir para se repensar o papel da NATO antes de se discutir orçamentos, Trump voltou à carga: "É por isso que ele é um grande político porque foi uma das maiores não respostas que já ouvi."