Os riscos da primeira viagem de Trump ao estrangeiro
A primeira deslocação de Donald Trump ao estrangeiro, que se inicia amanhã, pode representar um sucesso espetacular - que venha reforçar uma Administração confrontada com sucessivos reveses e revelações potencialmente negativas - ou concluir-se numa atmosfera de fracasso, que comprometa ainda mais o presidente republicano.
Este voltou a insistir ontem que é alvo da "maior caça às bruxas da história" depois de o Departamento de Justiça ter nomeado o antigo diretor do FBI, Robert Mueller, como conselheiro na investigação às relações entre a campanha de Trump e a Rússia.
Enquanto os anteriores presidentes dos EUA, desde Ronald Reagan, no início da década de 80, visitaram o México ou o Canadá na primeira deslocação ao estrangeiro, Trump escolheu a Arábia Saudita. Mas o reino liderado pela casa de Saud é apenas a primeira de cinco etapas em que o presidente americano vai encontrar-se com os governantes de Israel, o presidente da Autoridade Palestiniana, os responsáveis da UE, os chefes de Estado e de governo da Aliança Atlântica, alguns dos quais se juntarão ao primeiro-ministro japonês Shinzo Abe na cimeira do G7 em Itália. É ainda em Itália que Trump será recebido pelo Papa Francisco no Vaticano.
Este último é o encontro de resultado mais imprevisível. Francisco disse recentemente, no regresso a Roma após a sua viagem a Fátima, que não faz "julgamentos prévios antes de ouvir as pessoas", mas é conhecido o pensamento do Papa em questões como o ambiente e o acolhimento de refugiados, distintas das de Trump. Sobre este, na visita que Francisco fez ao México em 2016, o Papa não teve medo das palavras e afirmou que "quem só pensa em erguer muros, seja onde forem, em vez de construir pontes, não é cristão". A resposta de Trump, pelo Twitter, não se fez esperar: "É vergonhoso para um líder religioso pôr em dúvida a fé de uma pessoa".
A resposta a como vai decorrer o encontro pode residir no facto de estar prevista um momento de oração comum, indicavam ontem os média americanos. E se a passagem pelo Vaticano pode ser um dos pontos mais delicados na deslocação de Trump, os encontros com os dirigentes da União Europeia e da Aliança Atlântica contêm em si alguns elementos de tensão. Trump advogou abertamente a saída do Reino Unido da UE e tem insistido na necessidade de um maior equilíbrio na repartição das despesas no quadro da NATO. Durante a campanha, Trump considerou "obsoleta" a Aliança, qualificativo que veio a retirar ao receber o secretário-geral Jens Stoltenberg na Casa Branca.
A Foreign Policy revelava esta semana que as intervenções na cimeira da NATO não devem exceder os quatro minutos para minimizar a possibilidade de comentários que Trump possa considerar críticos.
Ainda em Bruxelas, Trump terá aquilo que a Casa Branca apresenta como "um longo almoço" com Emmanuel Macron. O novo presidente francês, que estará também presente na cimeira do G7 na Sicília, foi entusiasticamente apoiado por Barack Obama. O encontro no Sul de Itália não deixará de ser marcado pelo anúncio de que Casa Branca iniciou ontem o processo de consultas para a renegociação do acordo de comércio livre com o Canadá, que integra o G7 e o México (NAFTA, na sigla em inglês).
A primeira etapa da viagem - a presença em Riade - pode reservar surpresas. Se uma delas será a assinatura com os sauditas de um acordo de compra de armas no valor de cem mil milhões de dólares, um previsto discurso de Trump sobre a urgência do islão combater o radicalismo, está a suscitar reticências. O seu autor é Stephen Miller, o mais anti-muçulmano dos conselheiros do presidente.
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