Oposição venezuelana prepara o pós-Maduro
A justiça social será a prioridade do governo de união nacional que a Mesa de Unidade Democrática (MUD) diz estar pronta a pôr em prática caso o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, deixe o poder. "A mudança é imparável e iminente. A MUD faz este compromisso para garantir a estabilidade", explicou ontem o deputado Henry Ramos Allup. Este "acordo de governabilidade" é apresentado depois de o referendo simbólico no domingo contra a Assembleia Constituinte convocada por Maduro, em que participaram 7,5 milhões de pessoas, e do aumento da pressão internacional com a discussão de possíveis sanções contra a Venezuela da parte dos EUA e da União Europeia.
"O novo governo deve ser eleito através de eleições livres, soberanas e democráticas", afirmou Allup, ex--presidente da Assembleia Nacional, revelando que além da justiça social, o objetivo será responder à crise humanitária e implementar um plano de ataque contra a insegurança, a violência e a delinquência. A oposição promete uma "depuração" dos corpos policiais e militares. "As Forças Armadas Nacionais Bolivarianas não poderão ser utilizadas para resguardar os interesses de uma cúpula. Devem ser queridas e respeitadas por todo o país", disse.
Em relação às presidenciais, o deputado disse que que o próximo candidato da MUD será escolhido através de primárias e renunciará à reeleição imediata. A apresentação do acordo de governabilidade foi feita numa conferência de imprensa em Caracas, com vários opositores presentes, mas uma ausência que não passou despercebida - a do ex-candidato presidencial da MUD e governador do estado de Miranda, Henrique Capriles. "Se a determinado ato não pode vir alguém, não se façam conjeturas, às vezes não podemos estar aqui todos", afirmou Allup. Certo é que nem através do Twitter houve uma declaração por parte de Capriles sobre o evento.
Para hoje está prevista uma greve geral de 24 horas e amanhã irá nomear novos juízes para o Supremo Tribunal de Justiça. Para sábado está prevista uma manifestação de apoio a estes magistrados. Enquanto a oposição prepara o pós-Maduro, o governo venezuelano mantém os seus planos para a eleição dos 545 membros da Constituinte, no dia 30. O presidente ativou o Conselho de Defesa da Nação, o máximo órgão para consulta e planificação e assessoria em matéria de defesa e segurança, que está já a preparar medidas económicas, políticas e diplomáticas contra as "ameaças" do governo dos EUA e da UE.
O presidente norte-americano, Donald Trump, estará a estudar mais sanções contra dirigentes venezuelanos - e até poderá decidir deixar de importar petróleo venezuelano. Os EUA são o principal destino do ouro negro da Venezuela (país com as maiores reservas do mundo), que só importa mais do Canadá e da Arábia Saudita. Por sua parte, a União Europeia (UE) também não descarta sanções.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros português desmentiu ontem, em comunicado, um artigo publicado no jornal espanhol El País, segundo o qual Portugal seria o único país da UE a opor-se à aplicação de sanções contra o governo venezuelano. "Portugal não se opôs, no seio da União Europeia, à aplicação de sanções à Venezuela, pela simples razão de que esta questão não foi ainda discutida entre os Estados membros da UE", diz o texto.
"A UE, e com ela Portugal, tem feito tudo o que está ao seu alcance para favorecer uma solução política inclusiva na Venezuela, respeitadora do Estado de direito, do pluralismo político e do princípio de resolução pacífica dos diferendos", acrescenta o comunicado do MNE, lembrando que Portugal se revê nas conclusões aprovadas no Conselho de Negócios Estrangeiros de 15 de maio e na declaração da alta representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Federica Mogherini, que exortou Caracas a criar "melhores condições para voltar a trabalhar numa solução pacífica e negociada".