Obama sobre o embargo: "Vai acabar, só não sabemos quando"

Presidente dos EUA diz que são os cubanos que têm de decidir o destino do país. Raúl Castro nega existência de presos políticos
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"Dê-me uma lista dos prisioneiros políticos e irei libertá-los imediatamente", afirmou o presidente cubano, Raúl Castro, ao ser questionado por um jornalista norte-americano sobre o tema. Ao seu lado, na sala de conferências do Palácio da Revolução, estava Barack Obama, o primeiro presidente dos EUA a visitar a ilha em 88 anos, que reconheceu ter mantido "discussões francas sobre direitos humanos" com o homólogo mas lembrando que não pode "forçar a mudança em nenhum país" e que serão os próprios cubanos a escolher o destino de Cuba. Sobre o embargo, tema que ainda separa os dois países, disse que acabará. "Só não sabemos quando."

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O tema dos direitos humanos tem marcado as discussões para o restabelecimento das relações, que estiveram cortadas durante mais de meio século e só foram reatadas em julho. "Creio que a questão dos direitos humanos não deve ser politizada", disse Castro, de 84 anos, contra-atacando com as questões sociais com que se batem muitos norte-americanos: "Acredita que há um direito mais sagrado do que o direito à saúde?", disse, numa clara referência à inexistência de um sistema nacional de saúde nos EUA.

Obama, de 54 anos, lembrou que há vários países com os quais os EUA mantêm relações diplomáticas normais apesar das divergências relativamente aos direitos humanos: "Tenho grandes diferenças com os chineses acerca de direitos humanos", indicou. "O nosso ponto de partida é que temos dois sistemas diferentes de governo e de economia. E temos décadas de diferenças", acrescentou, indicando que ambos os países estão a avançar e não a olhar para trás. "Não vemos Cuba como uma ameaça para os EUA", sublinhou. Castro aproveitou para voltar a pedir a devolução do território ocupado pela base de Guantánamo.

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Castro surgiu pouco confortável na conferência de imprensa, recusando ouvir as perguntas dos jornalistas cubanos que queriam aproveitar a rara oportunidade de questionar o presidente. Obama disse que o homólogo só tinha aceitado responder a uma pergunta, mas encorajou-o a responder a mais outra. Castro parecia relutante quando o fez, escreveu a Reuters.

Embargo económico

"O bloqueio é o obstáculo mais importante ao nosso desenvolvimento económico e a sua eliminação é essencial para normalizar as relações bilaterais", disse Castro, reconhecendo como "positivas mas insuficientes" as medidas de Obama. Só o Congresso pode levantar totalmente o embargo, mas Obama tem usado os poderes presidenciais para introduzir algumas mudanças - como permitir as viagens para Cuba ou o uso do dólar em algumas transações. "Não faz sentido continuar a fazer uma coisa que durante 50 anos não resultou", defendeu também o presidente dos EUA.

Numa entrevista à estação de televisão ABC, Obama anunciou que a Google chegou a acordo com as autoridades da ilha para melhorar os acessos de internet. "No século XXI, os países não podem ter sucesso se os seus cidadãos não têm acesso à internet", disse Obama. Contudo, a empresa explicou mais tarde que as negociações estão só "nas primeiras fases".

Flores para Martí

Depois do passeio na véspera com a família pelas ruas de Havana Velha, seguido de um jantar no paladar San Cristobal, Obama começou o dia com uma oferenda de flores no monumento a José Martí, herói nacional de Cuba. Na Praça da Revolução, onde está um famoso relevo do revolucionário e médico argentino Che Guevara, Obama ouviu com a mão no coração a banda militar cubana interpretar o hino dos EUA.

Depois da homenagem, Obama seguiu para o Palácio da Revolução, onde foi recebido por Raúl Castro. Enquanto isso, a primeira-dama Michelle Obama conversou com dez jovens estudantes cubanas sobre a educação na ilha, para assinalar o primeiro aniversário da sua iniciativa Let Girls Learn (deixem as raparigas aprender). "A iniciativa de Michelle Obama para a educação das crianças e adolescentes já é uma realidade em Cuba, onde 100% vão à escola gratuitamente e de maneira obrigatória até ao 9.º ano, independentemente do lugar onde vivem, da cor da sua pele ou se têm alguma deficiência ou estão hospitalizadas", escreveu a Agência Cubana de Notícias.

Hoje, o presidente assiste a um jogo de basebol (desporto mais popular em Cuba) entre a equipa nacional cubana e os Tampa Bay Rays, da liga profissional dos EUA. Mas antes, Obama fará um discurso dirigido especificamente para os cidadãos cubanos desde o Grande Teatro de Havana e vai reunir-se com membros da sociedade civil, incluindo dissidentes. Não está previsto qualquer encontro com o líder da revolução cubana, Fidel Castro. Ao final do dia deixa a ilha, seguindo para a Argentina, onde fará uma visita oficial de dois dias.

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