O romance secreto de Julian Assange na primeira pessoa

Noiva pede às autoridades australianas que intercedam pela libertação do ativista. E conta como foi a relação entre ambos, da qual nasceram dois filhos, hoje com um e três anos.
Publicado a
Atualizado a

Foi uma relação secreta até abril deste ano, quando a advogada Stella Morris revelou que está noiva de Julian Assange, uma relação que dura há cinco anos e da qual nasceram duas crianças, atualmente com um e três anos. Tudo isto durante os longos anos em que Assange esteve refugiado na embaixada do Equador em Londres, e supostamente sob forte vigilância.

Agora, falando ao programa 60 minutes Austrália, a advogada sul-africana de 37 anos conta como tudo aconteceu, numa entrevista em que apela às autoridades australianas que intercedam pela libertação do ativista.

Stella Morris conheceu Assange em 2015, quando integrou a equipa de advogados que tentava evitar a extradição do ativista para a Suécia, onde era acusado de dois crimes de violação (acusações que foram entretanto retiradas). "Ficámos amigos, vimos filmes juntos, gostei muito do tempo que passei com ele. Foi muito romântico e muito doce", conta, dizendo que "não foi fácil" - "Mas quando estás com alguém que amas, fazes possíveis situações [que parecem] impossíveis".

Morris explica que o fundador do Wikileaks tinha espaços privados no edifício da embaixada do Equador - o local onde residia e o escritório - e que o primeiro filho foi concebido em 2016. A notícia foi dada ao futuro pai por escrito: "Como havia microfones por todo o lado quando fiquei grávida pela primeira vez tive que contar-lhe escrevendo num papel". "Nós amávamo-nos e queríamos formar uma família. Era a única certeza que tínhamos", conta Morris.

Para que não levantasse suspeitas, a advogada escondeu a gravidez e, quando as crianças nasceram foi um amigo, o ator britânico Stephen Hu, que levou as crianças à embaixada, como se fossem seus filhos, para que Assange os conhecesse. Mas o expediente não terá convencido totalmente os serviços secretos americanos que, segundo Stella Morris, tentaram levar uma fralda de uma das crianças, supostamente para fazer um teste de ADN e provar que eram filhos de Assange.

Na entrevista, a noiva de Assange pede diretamente ao primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, que interceda pela libertação do ativista (que nasceu na cidade australiana de Townsville), que diz estar em perigo e a viver em condições muito duras: "Julian está muito mal. Ele não é um criminoso, não é uma pessoa perigosa. É um pensador, um intelectual". Segundo a noiva, o fundador do WikiLeaks - o site que divulgou 700 mil documentos, muitos deles confidenciais, do governo norte-americano, passados por Chelsea Manning (à data, Bradley Manning) - está deprimido e passa 23 horas sozinho num espaço confinado.

Desde que saiu da embaixada do Equador, onde viveu entre 2012 e 2019, Assange está detido numa prisão de alta segurança em Londres, depois de ter sido condenado pelo tribunal de Southwark a praticamente um ano (50 semanas) de prisão por ter violado a liberdade condicional a que estava sujeito quando decidiu refugiar-se na embaixada do Equador.

Se for extraditado para os Estados Unidos, incorre numa pena de prisão que pode alcançar os 175 anos.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt